O debate talvez seja a forma mais igualitária de se apresentar e acompanhar propostas e candidatos em tempos de eleição. Outros dispositivos, quaisquer que sejam, tenderão a um – ou uns – determinado candidato em detrimento de outro. Logo, se essa ferramenta garante uma paridade entre tais e é basilar para o processo democrático, por qual motivo vem perdendo destaque e importância nos últimos pleitos?
Tempos de televisão e rádio, dinheiro do fundo partidário, comícios, carreatas, caminhadas, distribuição de materiais e afins são momentos distintos que ajudam a formar o todo que é uma campanha política. Todos esses citados, porém, não são assegurados a todos os postulantes, por exemplo. Enquanto candidatos tem um tempo de mais de 4 minutos e orçamentos milionários, outros tem tão somente sua voz e propostas. Não quero entra aqui no mérito dessa última, mas não podemos negar a desigualdade existente, porém existem outros dois momentos que apaziguam essa desigualdade: as sabatinas e os debates. O debate, o diálogo em um ambiente democrático, sempre existiu. Fora assim desde os filósofos da Grécia Antiga, passando pelo Senado Romano até a contemporaneidade. São também comuns e tradição no Brasil desde a década de 1980, com a redemocratização do país. Neles, há a garantia da igual participação a todos, com momentos geralmente divididos em blocos, onde os candidatos respondem, perguntam e apresentam.
‘São’ assim ou ‘eram’ assim? Nós vivemos um momento caótico, e não só na política. Uma pandemia que já vitimou mais de 1,1 milhão de pessoas no mundo e quase 160 mil no Brasil está em uma aproximação de 2ª onda de contágio em massa, bem como as crises econômicas e sociais que não dão trégua por estratégias falhas de governos contribuem para as instabilidades no país. Em meio a tudo isso, uma eleição que corre afoita. Qual momento teríamos para conhecer mais os candidatos, suas propostas e também contradições? Diríamos, antes, que é o debate, porém, como se a coisa já não estivesse ruim o suficiente, esse momento tão singular, e por vezes decisivo – vide o que aconteceu nas eleições presidenciais de 1989 – não será realizado em plenitude em capitais e na maior parte do país.
Com os agravos da situação do Coronavírus, as maiores emissoras de televisão do país, e por consequência, dos mais importantes debates eleitorais nas capitais e regiões metropolitanas, resolveram por bem não realizar debates; parte do rádio também seguiu a cartilha ditada pela Rede TV, Record TV, SBT e Rede Globo. Das maiores em audiência, apenas a TV Bandeirantes – Band – garantiu a exibição de debates em 1º turno e em um vindouro 2º. Interessante que as mesmas TV’s citadas reiniciaram as gravações de novelas e programas, mesmo com a pandemia incessante. Os meios digitais, que terão nessas eleições sua maior e mais importante atuação, não tenho dúvidas, podem garantir alguma paridade de candidatos, mas ferramentas como impulsos e propagandas pagas sempre irão favorecer aqueles que mais tem para gastar. É dessa situação de silêncio dos grandes meios de massa que surge nosso pioneirismo e resistência – que intitulam esse texto.
A Sertão TV é pioneira de nascença, e não há quem negue. A 1ª emissora de televisão 24h no ar do Sertão Central cearense carrega o orgulho de representar as milhares de pessoas que vivem em uma das regiões que quase sempre foi esquecida por governantes. Não poderia ser outra a realizar os primeiros debates televisionados da história de nossa região. Com uma organização de causar inveja a veículos muito mais poderosos, um jornalismo sério e condizente com suas linhas editoriais e uma equipe excepcional, os debates – iniciados com louvor pelos candidatos da cidade de Senador Pompeu que compareceram – se destacaram pela dinâmica e por, ao mesmo tempo serem novidades, mas que não negaram suas pré-existências vindas das rádios, que até então eram as principais distribuidoras desses momentos políticos. É pioneira essa iniciativa e é a prova da resistência democrática do povo sertanejo, que após décadas de coronelismos e cabrestos, sabe valorizar os direitos conquistados. Em um momento em que os grandes veículos – subservientes a meia dúzia de famílias, mas que tem concessões públicas para funcionamento – cancelam debates, censurando candidatos e, praticamente matando a voz daqueles que não dispõem de grandes estruturas, a SertãoTV mostra seu valor, a que veio, e realiza um trabalho de ‘encher a vista’. Candidatos irão se ausentar? Fugir ao debate? Dá a cara a cara para tapa? Sim, assim como fugiam outrora, mas isso não pode ser a desculpa para anularmos o valor de um debate e abrirmos precedentes para disputas políticas sem esse embate saudável. Pioneirismo e resistência, sim. Fuga e descrédito, não.
Fica aqui registrado nossos cordiais parabéns: aos candidatos que até agora compareceram e construíram ótimos momentos para nossa região, a equipe responsável pela realização desses sumários debates, ao Sistema Maior pela iniciativa e ao povo das cidades de nosso sertão, que são os protagonistas de nosso trabalho.
Esta coluna tem a pretensão de ser colaborativa. Se crê que algum tema da política e dos acasos sociais são de grande relevância, entre em contato, terei o prazer de discuti-los com você e, a depender da conversa, virar assunto de nosso espaço.
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