Foi-se o tempo que só os “filhos de barão” tinham oportunidade de estudar e, principalmente, conhecer o mundo por meio das letras. Para quem insiste em teimar que a educação pública não rende, os fatos mostram que até em outra língua ela se faz presente e, inclusive, é bem quista. Claro, trabalho de quem se esforça, seja professora ou aluno, a mostrar que, no interior do Ceará, nosso ensino de inglês é capaz até de olímpiada ganhar.
Antônia Gerleide dos Santos Teixeira, 26 anos. Pós graduada em Ensino de Língua Inglesa pelo Instituto Prominas, com graduação em Letras-Inglês pela Universidade Federal do Ceará, com curso na área pelo Núcleo de Línguas da Faculdade de Educação, Ciências e Letras do Sertão Central, UECE/FECLESC e graduanda em Pedagogia também pelo Instituto Prominas, Gerleide é professora da rede pública. Sua carreira na docência começou bem cedo, em 2012, como professora auxiliar da educação Infantil, por uma instituição privada. Em 2013, com apenas 19 anos, trabalhava como tutora de projetos voltados para a juventude na EEEM Cel. Humberto Bezerra; nos dois anos seguintes, inicia o magistério como titular em escolas públicas, tendo atuado nos ensinos Fundamental e Médio, pela rede municipal e estadual. 2015 foi um ano de virada para ela. A jovem docente, que estava em uma vaga de contrato temporário na escola profissional de Quixeramobim, sua cidade natal, é aprovada com louvor em uma seleção da CREDE 12. A questão? A escola que necessitava do ensino de inglês ficava em outra cidade. Decisões difíceis sempre norteiam aqueles que as fazem por merecer, pois a métrica da dificuldade parece confundir-se com a qualidade e esforço empregados por aqueles que detém o mérito. Gerleide fez sua escolha. Como mulher independente, forte, professora cujo sangue escorre a maestria da cátedra e uma história familiar incrível, embarca seus livros e sonhos rumo a Escola Estadual de Educação Profissional Maria Cavalcante Costa. Qual a minha propriedade de falar tudo isso? Tive a honra de ser um de seus primeiros alunos nessa nova jornada.
Gegê – como carinhosamente chamo ela – é daquelas pessoas que acreditam no poder transformador da educação, inspiradoras, principalmente para aqueles que querem seguir o caminho do educar, tal qual este graduando que vos fala. Conheci de perto sua pessoa humana e profissional, e atesto sua capacidade. Agora, para além de todos os testes que seus alunos já passam corriqueiramente, desde situações práticas de vida, a avaliações padrões de nosso sistema educacional, seu trabalho foi posto a fogo em um ambiente sempre desafiador: uma Olimpíada. E esse teste só comprovou o que já sabia: o trabalho da professora, o interesse de seus alunos e a qualidade da educação pública cearense irão abrilhantar nosso sertão. Se achavam que no escaldante sol de quase 40º do sertão central não tinha espaço para outra língua além do português – ou talvez, do ‘cearencês’ – sinto dizer que enganaram-se. Quando há amor pelo que se faz, é possível reproduzi-lo até em inglês.
Por meio de todo o contexto que vivemos, com o advento das aulas remotas e a necessidade de formação emergencial para professores, a Secretaria de Educação do Estado realizou uma série de formações com os docentes. Em uma dessas, transmitida pela página da Coordenadoria de Formação Docente e Educação a Distância no YouTube, Gerleide conhece a plataforma ChatClass e, posteriormente, a Olímpiada CHATCLASS e RELO, promovida pelo Escritório da Embaixada Americana, e realizada de forma Online. Conversando com Gerleide, faço algumas indagações, cujas respostas faço questão de reproduzir no corpo desse texto. A respeito de como trabalhou com seus alunos no início e decorrer da Olímpiada, Gerleide foi enfática ao mostrar que usou as ferramentas digitais a favor da equipe: “Realizei Web Conferência via Google Meet a fim de apresenta-los a oportunidade de aprender inglês por meio de Inteligência Artificial. Esta Vídeo Conferência, intitulada “Plataforma ChatClass: Uma Nova História”, aconteceu com todas as turmas. Foi realizada em três horários, separados por série. Na oportunidade falei sobre a importância de aprender inglês e as vantagens de aprender uma segunda língua por meio da ChatClass Escola.” Continuando com sua resposta, sobre a experiência dos alunos e dela própria, diz: “A inscrição foi totalmente opcional. Em cada turma um aluno monitor ficou responsável por recolher os nomes de quem queria participar. Com os nomes em mãos, criei as turmas e enviei o código no grupo de WhatsApp das salas. Com as turmas já formadas criei um outro grupo de WhatsApp apenas com os alunos inscritos na Olimpíada. Durante este período gravei vídeos e áudios motivando os estudantes a participarem, oferendo todo suporte necessário e sanando dúvidas que iam surgindo. Falei das vantagens e sempre priorizei a aprendizagem como maior prêmio em participar da Olimpíada de Inglês de 2020. No decorrer da Olimpíada fui lançando pontuações internas com o objetivo de reconhecer o empenho e dedicação dos inscritos. Em todo o percurso tive o apoio de alunos monitores.”. O resultado de tanto trabalho? O reconhecimento! Gerleide e seus alunos foram classificados na Olimpíada.
“Para ser sincera eu não esperava ir tão longe. Em todo momento eu visei a aprendizagem dos meus alunos. Acredito que quem não dominar inglês e tecnologia não será livre no futuro, já que a liberdade financeira é turbinada pela fluência. Mas, fiquei bastante feliz com o resultado. Este resultado é fruto de um trabalho coletivo.” Assim finaliza suas respostas para minhas questões. O reflexo da esperança de uma nova nação, que acredite na educação e colha os louros desta. Mas há outro personagem que temos de destacar aqui, o aluno. Gerleide ficou entre as 3 melhores professoras reconhecidas pela Olimpíada, e fez com que um de seus discentes fosse destaque principal em uma das categorias no Ceará: Wendell Lemos da Silva, de 16 anos, aluno do Curso de Informática da EEEP de Quixadá. Perguntado sobre como ficou sabendo da Olimpíada e dos resultados, o jovem nos disse que: “Eu tive conhecimento através da minha professora de inglês, Gerleide Santos. Ela comunicou para toda a turma e nos incentivou a participar. Então me inscrevi. Eu fiquei muito feliz com o resultado que obtive.”. Wendell ainda fala, a respeito da experiência: “Eu gostei muito. As atividades eram muito divertidas de fazer e sempre dinâmicas, sem passar muito tempo em um mesmo tipo de atividade. Logo, eu me divertia fazendo as atividades e não ficava entediado.”. Pedido para mandar uma mensagem para seus colegas que não participaram e para outros jovens que se interessam em participar, o promissor aluno foi brando: “A Olimpíada foi uma ótima oportunidade para aprendizagem. Mas quem não pôde participar não deve se desanimar, pois há várias formas de aprender inglês. E a coisa principal para alcançar esse objetivo é a sua determinação, o quanto você realmente quer aprender.”. Essa é, sem dúvidas, a ‘nova cara’ do ensino cearense, expressado em números todos os anos, após a exibição dos resultados do IDEB -no ano passado, 82 das 100 melhores escolas públicas do país eram de nosso estado- agora também a mostra por avaliações novas e de diferentes gamas. Quando somamos fatores, como melhoras de infraestrutura, liberdade de cátedra, professor que ama o que faz e aluno que está disposto a não só “receber” informações, mas sim fazer parte da construção delas, temos de resultados esses, que vão além de ‘colocações’ ou premiações, mas que enchem os olhos de alegria e esperança.
Expressamos aqui, uma vez mais, nossos cordiais parabéns ao aluno Wendell e a professora Gerleide. Vocês merecem toda a fortuna do mundo: uma educação libertadora!
Essa coluna tem a pretensão de ser colaborativa. Se crê que algum tema da política e dos acasos sociais são de grande relevância, entre em contato, terei o prazer de discuti-los com você e, a depender da conversa, virar assunto de nosso espaço.
Foto: Arquivo pessoal
Para conferir mais artigos na coluna de Itamar Filho, clique AQUI.