2020 passou, e com ele, o processo eleitoral. E os resultados em nossa região? Cirilo e Elíria de volta; Edinho e Marcondes permanecem e Ricardo alcança seu objetivo. Os novos (e antigos) nomes do poder no Sertão Central.
Em meio a uma pandemia, o último sufrágio brasileiro foi marcado por turbulências, dentro do campo político e sanitário. A campanha, extensamente criticada, conduzida por políticos das mais diversas correntes ideológicas partidárias, não conseguiu se atualizar às necessidades do tempo presente, quebrou protocolos sanitários e causou aglomerações, bem como incendiou o -já complicado- cenário da política nacional. Como uma bituca de cigarro em meio a caatinga seca, as disputadas eleitorais pegaram fogo e acirraram ânimos, das capitais as cidades do interior. No Sertão Central isso não fora diferente.
Velhos conhecidos voltaram ao poder, outros permaneceram e alguns ascenderam. Cirilo Pimenta faz parte do primeiro grupo. O experiente político conquistou mais um mandato na terra de Antônio Conselheiro. Com explosivos 11 mil votos de vantagem sobre o segundo colocado, o então prefeito candidato a reeleição, Clébio Pavone, Cirilo chegou pela quarta vez ao poder em Quixeramobim, assumindo uma prefeitura com sérios problemas financeiros, com um rombo orçamentário que chega na casa dos R$ 40 milhões, como relatou em entrevistas recentes, em meio a pandemia do Coronavírus. Quixeramobim é, talvez, a cidade da região mais afetada pelo vírus e a administração anterior ficou sem controle do que ocorria, o que gerou inúmeras críticas e desgaste; situação parecida é a de Elíria Queiroz. Após quatro anos, ela volta ao comando de Ibaretama, substituindo Edson Moraes, que não tentou a reeleição e havia anunciado que deixaria a vida pública. O município, de pequeno porte, sofre, principalmente com a falta de insumos e problemas estruturais, como relatado pelo secretariado que assumiu as pastas da administração pública no último dia 1º. O curioso dos dois casos? Tanto Cirilo quanto Elíria eram gestores de suas respectivas cidades em 2016 e tentaram a reeleição naquele ano. Não obtiveram sucesso, mas voltam após gestões desastrosas de seus opositores, agravadas pelas crises brasileiras (social, política e econômica) e sanitária.
Edinho Nobre, por sua vez, mostrou força política em Banabuiú, conquistando uma das maiores porcentagens eleitorais do pleito na região: quase 60% dos votos, bem como o recorde de vantagem sobre o opositor em sua cidade. O ex-prefeito Veridiano Sales perdeu por mais de 2,3 mil votos, expressivo em um município com pouco mais de 12 mil eleitores. Além disso, o prefeito reeleito conquistou maioria absoluta na Câmara e na eleição da diretoria. A cidade se destaca com apoios em âmbito estadual, a situação financeira estável, a continuidade de obras e o bom relacionamento do gestor, inclusive, com órgãos federais, como o DNIT. Há motivos para “sorrir à toa” na terra das borboletas, um pouco diferente da situação no Choró de São Sebastião. Sim, o prefeito Marcondes Jucá foi reeleito com mais de 600 votos de vantagem e grande entusiasmo popular, porém não ecoou um discurso tão animador durante seu reencaminhamento ao cargo na sessão solene no começo do ano. Marcondes mostrou a situação da cidade e as dificuldades enfrentadas pela administração e pediu a cooperação de todos, desde o alto escalão da gestão aos servidores temporários. São tempos difíceis acentuados pelas crises já existentes e a humanitária que se aproxima com o fim do auxílio emergencial.
E Quixadá “realizou” o sonho do médico cardiologista Ricardo Silveira. Com pouco mais de 3 mil votos de vantagem sobre o então prefeito Ilário Marques, Ricardo se sagrou vencedor da disputa após uma década buscando o mais alto posto de gestão da maior cidade do Sertão Central. O médico, de uma família tradicional na política do município, mas que há anos não assumia cargos eletivos, tinha pretensões eleitorais desde o início dos anos de 2010. Após romperem com o grupo político de Marques, Ricardo e seus irmãos passaram a pensar em uma candidatura própria. Em 2012, chegou a ser lançado como pré-candidato a prefeito, mas abdicou da candidatura para apoiar o eleito daquele ano, João Hudson “da Sapataria”. Ricardo ganhou a secretaria de Saúde da cidade por seu apoio, mas por desentendimentos, saiu da gestão após uma semana. Em 2016, com o apoio de figuras políticas do município e do então senador Eunício Oliveira, finalmente se candidata ao cargo, mas acabara perdendo para Ilário. A situação se inverte em 2020 e Ricardo chega à cadeira que tanto queria, assim como consegue eleger uma mesa diretora de situação na Câmara. Nos primeiros dias de gestão, já trocou inúmeras farpas com o ex-gestor, principalmente a respeito de um suposto rombo de 11 milhões nas contas públicas. Ilário, por sua vez, em entrevista recente a Rádio Campo Maior, disse não haver rombo, mas sim compromissos da prefeitura, como o salário de servidores, cujos repasses para pagamento seriam injetados no início de janeiro; se envolveu, ainda, em uma trama que ganhou o país: a aplicação da Coronavac, vacina do Butantan contra o coronavírus, na secretária de saúde do município. A dose em questão teria sido perdida, mas a prefeitura e o prefeito não admitiram o fato e travam uma guerra pela narrativa. Vemos que na terra dos monólitos o palanque parece não ter sido desmontado, diferente das demais cidades irmãs da região, que já tocam seu trabalho e tentam atenuar dificuldades e se preparar para o início da campanha de vacinação em massa contra a Covid-19 no Ceará. E que venha a vacinação ampla, para todos -administrada por quem entende e é profissional especializado da área. Chega de desperdícios por marketing político, hein. Até lá, se cuide e cuide de quem ama. Boa sorte aos novos (e novos de novo) gestores.
Boa segunda, uma ótima semana e bom trabalho, classe trabalhadora.
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