Você pode até não gostar muito do futebol, entender a lógica do jogo ou mesmo não se cativar ao longo dos 90 minutos de partida, mas é inegável a importância do esporte, não só para a vida daqueles que o praticam ou encantam, mas para a identidade nacional construída do brasileiro. O que também a inegável é que o futebol, como todas as outras manifestações humanas, é passível de interferências de cunho político, como vimos na história e estamos vendo, a cada dia, passando em nossa frente.
Desde que a Conmebol anunciou que o Brasil sediaria a edição 2021 da Copa América, após as recusas de Argentina e Colômbia em fazer o mesmo, e com nosso país passando pelo momento mais sério e cruel da crise sanitária provocada pelo coronavírus, as críticas dispararam e os olhos da política se voltaram também para o futebol. Com a levantada possibilidade de seleções recusarem-se a jogar o torneio e a principal delas, a dona da casa, ‘canarinho’ amarela brasileira também se manifestando contra, os bastidores entregam que a disputa pelo controle do Brasil vão além do congresso ou de cargos na política nacional e chegam a identidade do povo.
O governo Bolsonaro não escondeu de ninguém a insatisfação com as manifestações do técnico da seleção brasileira, Tite, e do Capitão do time, Casemiro, que os jogadores e equipe estariam se preparando para anunciar à CBF que não jogariam a Copa América. A Confederação Brasileira de Futebol é presidida por um bolsonarista que foi afastado do cargo no último domingo sob alegação de assédio; Caboclo, o presidente afastado foi um dos articuladores para que o torneio viesse para o Brasil sob a chancela de Bolsonaro. O ‘não’ dito pela seleção despertou a fúria no dirigente, que havia prometido ao presidente da República a demissão de Tite. Mais uma vez, você pode não acreditar que a política está em tudo, mas ela está.
A seleção brasileira, única pentacampeã das Copas FIFA, sempre foi orgulho da nação, e a ditadura militar sabia usá-la a seu favor; foi assim que lançou campanhas durante as copas do mundo com slogans como “Ninguém segura esse país”. Desde a redemocratização, em 1988, nenhum outro governo quis intervir na seleção – até agora. A interferência bolsonarista, autorizada pelo presidente da República, pode custar muito caro a seleção canarinho. Isso pois a FIFA não aceita que governos ajam sobre seus times nacionais e a punição para tal ato é a expulsão dos jogadores da Copa. Imaginem, o Brasil, único país que nunca ficou de fora de uma Copa do Mundo por qualidade própria de seus jogadores, ser barrado em 2022 por conta da loucura imperiosa de seu maior mandatário e seus seguidores zumbis.
Sim, o futebol, como a música, a arte, o cinema, o teatro, a cultura, a escrita, a fala, todos são elementos que tem em comum a política. A tática bolsonarista é similar a militar dos anos de chumbo: sequestrar nossa identidade para alicerçar sua narrativa. O Brasil é melhor do que isso. Que nossos jogadores e Tite tomem lado e decidam em favor do povo; seus lugares na história estarão garantidos.
Uma ótima semana, classe trabalhadora.
Esta coluna tem a pretensão de ser colaborativa. Se crê que algum tema da política e dos acasos sociais são de grande relevância, entre em contato, terei o prazer de discuti-los com você e, a depender da conversa, virar assunto de nosso espaço.
Foto: Raul Pereira/Estadão
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