Home Artigo Eleições 2022: os caciques e a evolução das eleições

Eleições 2022: os caciques e a evolução das eleições

Eleitores votam seguindo protocolos de prevenção à pandemia do coronavírus (covid-19) na Rocinha.

Com o advento das redes sociais e com a importância que elas adquiririam nas disputas eleitorais, chegamos ao ponto onde muitos caciques têm dificuldade para entender o momento presente. Parte considerável dos reverenciados líderes políticos que nasceram, cresceram e se fortaleceram com esteio no poder econômico e/ou em questionáveis práticas eleitoreiras, sempre visando a captação de votos, a perpetuação no poder e o aniquilamento dos “inimigos” que o próprio poder acaba gerando, não acompanhou a evolução de percurso do trem da história. São os senhores que, mesmo viajando de primeira classe, desceram numa estação para tomar um cafezinho e lá permaneceram além da conta, enquanto o trem seguiu viagem.

Nesse contexto, manifestações espontâneas assustam aqueles que não compreendem como elas se formam, originando questionamentos do tipo: “de onde surgiu tanta gente?”; “Como eles conseguiram fazer essa mobilização?”; “Quem está patrocinando?”. Afinal, quem sempre definiu quais seriam os eleitos, comprou votos ou se utilizou de outros artifícios igualmente sórdidos para disputar eleições, haverá de achar bem estranho pessoas voluntariamente defendendo candidatos e até declarando voto sem que isso seja mediado por nenhum desses senhores feudais que, fortes e vigorosos como são, conseguiram se perpetuar no tempo e no espaço. Tempo e espaço que, diga-se de passagem, na visão deles lhes pertencem por direito (sendo muitíssimo estranho que alguém possa neles transitar sem a autorização desses senhores). Estaria o povo cometendo o pecado de não lhes comunicar ou lhes pedir permissão, tomando iniciativas sem com eles combinar? Ou estaria ocorrendo o contrário: os pretensos donos dos feudos é que teriam esquecido de combinar com o povo?

O fato é que os caciques parecem meio atordoados. Paradoxalmente, na campanha eleitoral de 2022 também tem sido comum se ouvir por parte de muitos eleitores que “as eleições estão paradas, não se vê tantas movimentações como antigamente”. Onde estão os carros de som, os muros pintados, o exército de veículos adesivados, os comícios diários e outras ações tão comuns em pleitos eleitorais num passado não tão distante? De fato, a forma de se disputar eleições tem mudado e a mudança parece ser positiva.

Quem sabe estejamos evoluindo e, eleições após eleições, venhamos a testemunhar cada vez mais eleitores escolhendo e votando em quem desejam votar (dentre os nomes que estão disponíveis) – e não necessariamente em quem os caciques decidem! Naturalmente, tanto aquele que passou a vida inteira arrebanhando indivíduos e aviltando consciências, quanto aquele indivíduo que sempre esteve no polo oposto, acostumando-se a ser arrebanhado e aviltado, estranharão a mudança. As velhas práticas, por certo, coexistirão com as novas por um bom tempo! Ainda é possível se escutar muitos relatos de coações e de constrangimentos. Servidores públicos, especialmente os temporários (não concursados), bem como os cargos comissionados (servidores concursados ou não), são alvos frequentes de perseguições que, muitas vezes, até os perseguidos consideram como sendo algo inato à função (“o que se pode fazer? Sempre foi assim…”).

Em síntese, há uma mudança em curso. Ela não se dá na velocidade desejável e, por conseguinte, há um abismo entre o mundo ideal e o mundo real; mas caso sigamos evoluindo, a tendência é que o tamanho do abismo se reduza.

Luís Carlos Paulino
Capitão da reserva da PMCE e professor universitário

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