O Ceará já registrou, até este mês de outubro, cerca de 1.000 focos de calor – que indicam a presença de fogo naquela área – por meio de imagens de satélite. Os dados do Programa Queimadas, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) apontam que o pico costuma ser em novembro.
Porém, de acordo com a agrônoma e pesquisadora da Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos, Dra. Juliana Vieira, já a partir do segundo semestre, quando as chuvas no Estado reduzem, o cenário já costuma ficar mais favorável às queimadas.
“Os incêndios florestais e queimadas são influenciados pelas elevadas temperaturas, baixa umidade do ar e também pela vegetação seca”, explica.
As queimadas são consideradas técnicas arcaicas. Basicamente, consistem no uso do fogo em uma determinada área para renovação do pasto, eliminação de pragas e ainda eliminação de restos de outras culturas.
Conforme o Inpe, considerando a base histórica iniciada em 1998, o ano que o Ceará alcançou o maior número de focos de calor foi 2004, com 10.582. No ano passado, o Estado registrou 4.379, o maior desde 2011.
A prática da queimada pode afetar o meio ambiente de diversas formas, como a composição química da atmosfera agravando o aquecimento global, e a perda da biodiversidade local.
“Especificamente para o solo, o impacto maior é o seu empobrecimento, visto que, durante esta prática, a matéria orgânica que é a reserva nutricional para as plantas, é destruída. A gente também vai observar a morte dos microorganismos do solo, que são responsáveis pela degradação da matéria orgânica. Esta prática também vai agravar os processos erosivos, já que a área fica mais vulnerável à ação dos ventos e da água”, reforça Vieira.
Além dos problemas ambientais, as queimadas podem contribuir para questões socioeconômicas, pois a terra fica inapta para a agricultura, fazendo com o que o homem do campo tenha que se deslocar para outras regiões.
Combate
No Ceará, ações de combate às queimadas vêm sendo realizadas por meio de um programa estadual chamado Previna. Em 2018, um mapa foi elaborado indicando as áreas mais susceptíveis a incêndios florestais e queimadas, assim como o uso proibido do fogo em um determinado período do ano.
“Com o desenvolvimento da tecnologia, surgiram outras práticas que podem substituir o uso do fogo. Alguns países já utilizam máquinas para fazer o preparo da terra para o plantio. No semiárido, porém, nem todos os agricultores têm acesso a este tipo de tecnologia e acabam utilizando das queimadas para realizar a limpeza de áreas. Porém, se realmente for necessário o uso da prática, ela deve ter acompanhamento técnico , evitando maiores impactos ao meio ambiente”, finaliza a pesquisadora da Funceme.
Repórter Ceará