O professor da Faculdade de Educação, Ciências e Letras do Sertão Central (Feclesc/Uece), Tácito Rolim, está desenvolvendo pesquisa de pós-doutorado na Universidade do Porto, em Portugal, com o título “O Atlântico, os EUA e a Guerra Fria (1945-65)”. O objetivo é investigar a relação Portugal-EUA na Guerra Fria, no entanto, já descobriu que tal relação só faz sentido se incluir os Açores, que é um território autônomo de Portugal.
A pesquisa não passou despercebida. O docente da Uece foi convidado para entrevista à emissora de TV portuguesa RTP-Açores, no programa “Conversas com Ciência”. Durante o diálogo, professor Tácito afirmou que “a centralidade da Guerra Fria em Portugal está nos Açores”. Desta forma, a pesquisa envolve atividades militares norte-americanas realizadas no arquipélago dos Açores.
Não é novo o interesse do docente pelas investigações sobre a relação entre países na Guerra Fria ou outros assuntos relacionados à referida Guerra, como ressalta o pesquisador. “O interesse pela Guerra Fria já vem de longa data, desde os meus estudos de graduação, passando pelo Mestrado, pelo Doutorado, e agora no pós-doutorado”.
O projeto agora desenvolvido no pós-doutoramento é uma extensão das pesquisas de doutorado, resultantes na tese “O Brasil e os EE.UU no contexto da Guerra Fria e seus subprodutos: Corrida Espacial e Armamentista, Era dos Mísseis e Nuclear 1945-60”; e no livro “O mundo na Era Atômica: o Brasil e a Guerra Fria (1945-60)”, além de artigos científicos.
“No pós-doutorado quero utilizar a mesma abordagem para o conceito de Guerra Fria que utilizei durante o Doutorado, voltado para as relações Brasil e Estados Unidos. E agora quero utilizar para as relações Portugal-Estados Unidos, para o período de 1945 até 1965”, revela o pesquisador. Sobre essa abordagem, ele explica: “Chamo de Abordagem Atômica. Ela tem como centro de análise o conceito da Guerra Fria a partir da ‘Tecnologia’, e não tanto pelas questões de ordem política e ideológica”. Ao utilizar essa abordagem escolhida, a análise será centrada em três eixos: corrida pelo urânio, corrida pela pesquisa e desenvolvimento das armas nucleares e corrida pela pesquisa e desenvolvimento de vetores. “A questão da Política e da Ideologia é uma parte mais visível da Guerra Fria, mas existe também um núcleo duro da Guerra Fria que está centrado muito mais nessas questões de ordem Tecnológica”, completa.
O pesquisador dá um exemplo identificado ainda enquanto doutorando. “Tem um documento que encontrei, uma troca de notas entre o Departamento de Defesa, a Embaixada dos Estados Unidos em Lisboa e a Comissão de Energia Atômica, sobre tambores contendo material radioativo, que foram encontrados em Cais do Pico”. Essa informação, de ordem tecnológica, mostra uma certa contradição com informações até então divulgadas, e que precisa ser investigada pela Ciência.
Desta forma, focado nas tecnologias para compreender a Guerra Fria e suas relações, professor Tácito compreende, inclusive, que as armas nucleares foram criadas para não serem utilizadas e defende que a Ilha das Flores, em Açores, com a base francesa que lá existiu entre os anos 60 e 90, do século XX, desempenhou um papel importante no desenvolvimento de mísseis balísticos.
Repórter Ceará