Home Terezinha Oliveira O ‘Zé’ de uma ‘oficina’

O ‘Zé’ de uma ‘oficina’

Esse pequeno texto discorre sobre uma pessoa que foi incomum. Falo de um brasileiro grandioso. Em tudo que realizou, ele imprimiu seu traço de originalidade e o que fora elaborado por outros ele reescreveu na medida da intensidade de sua verve.

Em 30 de março do ano de 1937, na cidade de Araraquara, interior do Estado de São Paulo, nasce o filho do casal Jorge Corrêa e Ângela Martinez Corrêa que é registrado com o nome de José Celso Martinez Corrêa e se tornará um militante da cultura nacional, especialmente na Arte Teatral, da qual foi um expoente em muitas funções desempenhadas: autor, roteirista, ator, produtor. Ele não era apenas um Diretor de Teatro; do palco ele recriava o “Mundo”.

Em 1967, para apresentar “O REI DA VELA”, de autoria de Oswald de Andrade – um dos modernistas da Semana de Arte de 1922, Zé Celso cria uma linguagem cênica no contexto tropicalista. As primeiras notícias que tive desse Artista me chegam pela apresentação do trabalho de Chico Buarque –“RODA VIVA”; essa peça expressava uma resistência aos rigores da Ditadura Militar e por isso, ao ser encenada no Teatro Ruth Escobar de São Paulo, ocorre a invasão do espaço por membros do Comando de Caça aos Comunistas/CCC, com agressão à equipe e destruição do grande encontro acontece para ocorrem invasão e agressões por ocasião da encenação da referida peça.  Em 1974, Zé Celso é preso e exilado, indo morar em Portugal. Retorna ao Brasil em 1979.

As causas sociais marcaram toda obra de Martinez. Ao preparar suas peças sobre obras existentes, destacava as mazelas que atingiam os menos favorecidos e os perseguidos. Assim foi reescrita a obra de Euclides da Cunha – “OS SERTÕES” da qual foram criadas cinco peças reunidas em uma mega montagem que foi levada até o exterior. Ao se aprofundar na saga do messiânico “ANTÔNIO VICENTE MENDES MACIEL – O Conselheiro”. E assim Quixeramobim desperta os interesses do paulista José Celso. No mês de novembro de 2007 eis que esse grande encontro se concretiza: o Mestre das traduções teatrais e o aconchego caloroso do Sertão que gerou o Beato peregrino. Quis o destino que eu estivesse desempenhando as funções de Secretaria de Cultura e Turismo do Município, sendo envolvida em todas as etapas desse mega projeto que exigia toda atenção, paciência em intenso labor. Mas o que valeu foi o contato com pessoas incríveis do Teatro e ver Quixeramobim na rota de tantas caravanas que vinham aprender sobre a frase de Euclides da Cunha: “O Sertanejo é antes de tudo um Forte”. E foi uma temporada que os Sertões foram revisitados, o Mestre José Celso adentrou no mundo do Conselheiro e muitos conheceram uma versão da sangrenta luta de soldados bem armados contra cristãos fortalecidos pela Fé.

O legado de José Celso não se restringe ao espaço e aos equipamentos do Teatro Oficina Uzyna Uzona. Compreende a vivência de um Grupo que desde 1958 inovou a linguagem teatral e deu uma dimensão maior aos movimentos culturais engajados no
ambiente sócio-político vigente.

Foto: Elistênio Alves

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