Retorno a esse espaço cantando que a bola da vez está com as cidades médias, de médio porte, como Quixadá e Quixeramobim. Antes, é preciso que essas cidades estejam prontas para o futuro que bate a porta.
Podemos dividir a história da sociedade brasileira em dois momentos: um primeiro, cuja população era majoritariamente rural, advinda e moradora do campo, e um segundo, após o período de êxodo rural, que levou milhões a buscarem oportunidades e estadia nas grandes cidades. Os censos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, IBGE, mostram que esse processo, ocorrido no meio do século passado, fez com que os centros urbanos de cidades como São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Fortaleza e Salvador aumentassem exponencialmente, mais que triplicando suas populações. Isso passou a ser um grave problema quando as infraestruturas dessas cidades passaram a não acomodar e comportar tanta gente. Podemos perceber isso com o trânsito caótico, a falta de saneamento, as filas na saúde e educação dessas que são as maiores metrópoles do país. Nos últimos anos, porém, uma tendência, realçada no último censo, mostra que esses centros aglomerados não demonstram o mesmo crescimento, e há uma mudança de comportamento social: as médias cidades despontam como saída.
Esses municípios se caracterizam por serem o espaço intermediário entre o caos das capitais e grandes cidades, e a baixa oferta de serviços disponíveis nas cidades pequenas. No sertão central podemos perceber, como exemplos, Quixadá e Quixeramobim: ambas dispõem de uma gama de serviços e polos. Quixadá se destaca pelo polo educacional no ensino superior e variada oferta de serviços no comércio; Quixeramobim apresenta uma pujante indústria calçadista e equipamentos importantes, como o Hospital Regional do Sertão Central, HRSC – mesmo assim, as duas cidades ainda não atingiram a marca de 100 mil habitantes. Esses municípios, como outros do Estado, tem a oportunidade de se tornarem ainda mais atrativos para aqueles que desejam fugir do caos da região metropolitana sem abrir mão de boas opções de entretenimento, lazer, saúde e educação. Para se tornarem opções de destaque para essa escolha, ambas as cidades devem antes passar por mudanças que as deixem preparadas.
Apesar dos serviços, ainda há muito o que ser feito, e deixo minha contribuição aqui. Para ser convidativa ao mundo exterior, uma cidade deve primeiro cuidar de seus cidadãos. De nada adianta pensar em uma expansão atraindo pessoas de outros municípios se os atuais habitantes querem ou precisam sair. Criar oportunidades de emprego é essencial. Atrair novos empresas, indústrias, diferentes comércios é a etapa um – a etapa zero é construir condições para a instalação desses empreendimentos, e isso significa investir em infraestrutura. Sim, existe um grave problema no pacto federativo e na distribuição de verbas no país, e tratarei disso outrora, mas meios legais e políticos permitem o pedido de capitais para investimentos, como Parcerias Público-Privadas, convênios com governo do Estado e União, e empréstimos. Uma boa estrutura, com saneamento, ruas e espaços públicos urbanizados, acesso a saúde e educação, e um bom Plano Diretor vão atrair novos empreendimentos e os olhares de pessoas que não pretendem continuar o resto de suas vidas paradas no trânsito de uma Avenida Aguanambi ou Bezerra de Menezes.
Para além dos serviços essenciais, os diferenciais vão contar em dobro para a escolha de alguém que pretenda se mudar. As ofertas de lazer e entretenimento, bem como as políticas públicas são o forte do século XXI. Quixadá tem uma potencialidade indescritível nesse quesito: lazer em esporte radicais, meio ambiente, cultura, festivais regionais e até ufologia; Quixeramobim pode adotar sua história e investir em novos polos industriais. Ambas ainda devem mobilizar esforços para as mudanças climáticas, com a adoção de outras posturas em relação à preservação ambiental, com implementação de parques, despoluição de rios, córregos e descarte correto do esgoto e lixo. Paralelo a isso, pensando a frente, em um cenário de mudanças cada vez mais velozes no mundo, a busca por parcerias estatais e privadas com conglomerados tecnológicos podem transformar esses municípios em cidades inteligentes, onde a tecnologia trabalha a favor do bem estar social e da otimização das máquinas públicas.
Todas essas mudanças demandam tempo, planejamento, investimento, amadurecimento de políticos e das cidades em geral, mas o primeiro passo é a ousadia de pensar grande, sonhar e construir um futuro promissor para nossas casas. É possível e nós não podemos perder essa oportunidade. Se minha crença nesse momento não fosse tão voraz, não teria escolhido esse tema como nossa primeira conversa depois de tanto tampo. É um prazer voltar.
Foto: Jândreson Gomes