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Somos todos mineiros, queira ele ou não

Top view of the center of the historic Ouro Preto city in Minas Gerais, Brazil with its famous churches and old buildings with hills in background

Minas Gerais é, para o bem e para o mal, a síntese cultural do Brasil. Quando a seca era inclemente como um castigo divino (dilúvio de calor e pó), fugimos para o sul. E nossa tragédia era medida com as léguas de Minas: atravessar Minas era o preço da nossa salvação.

Não há como amar o Brasil sem reverenciar Minas, onde uma gente que falava Nagô e adorava Oxum arrancou da terra, sob a chibata dos feitores, o mineral que colocou este “imenso Portugal” no mapa da aventura civilizatória e lhe deu seu próprio nome: Minas. De ouro e dor. De brilho e rancor.

“Vem de Minas” o Velho Chico, a jóia do escasso tesouro das águas que hoje socorre os sertões nordestinos. Vem das gerais de Guimarães Rosa, porque “o sertão é dentro da gente”. Minas dos sobrados coloniais onde se forjou o “coração civil” do menino Tancredo, o filho do Seu Neves.

Minas de “Mil tons e seus tons geniais” – uma esquina onde um clube de talentos iluminou os anos mais escuros da nossa história. Dos Inconfidentes. Da rainha negra, Chica da Silva. Dos intelectuais retraídos e refinados. Da falsa modéstia, do humor sem piedade.

A Minas de quem ousou fazer a imitação dos pássaros, Santos Dumont, é a mesma de um negrinho chamado Edson, que nos fez sonhar que somos grandes e disse ao mundo que Três Corações é nome de cidade. Do sorriso radiante, que nos irrigou de otimismo, na face de um homem que ergueu Brasília, capital dos nossos tormentos e da nossa esperança.

Amamos Minas como os filhos órfãos amam seu irmão mais velho. Minas é nosso centro de gravidade. Nosso mapa. Nosso espelho vívido. Não há pecado ou virtude brasileiros que seja estranho ao coração de Minas. Carlos lamentou: “Minas não há mais, José”. Estivesse vivo, o poeta, feliz que só, saberia agora que Minas não morreu: se fez Brasil.

Ricardo Alcântara
Escritor e publicitário

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