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Dezembro Vermelho: desigualdades sociais afetam avanço no combate ao HIV/Aids

Embora 1º de dezembro seja a data escolhida para celebrar o Dia Mundial da Luta Contra ao HIV e a Aids, todo este mês, batizado de “Dezembro Vermelho”, é destinado a sensibilizar as pessoas sobre o vírus e a doença, promover as formas de prevenção e tratamento, assim como combater os estigmas que ainda rondam a enfermidade.

Contudo, a luta contra o HIV/Aids vai além de números e investimentos. As estatísticas acabam expondo algumas fragilidades, sobretudo as desigualdades sociais, que ainda persistem no Brasil. É para o que chama a atenção Álvaro Madeira Neto, médico sanitarista, gestor em saúde e especialista em medicina preventiva e social

Segundo ele, apesar de os dados mais recentes do Ministério da Saúde indicarem uma queda de 25,5% na taxa de mortalidade por Aids na última década, os casos registrados são em sua maioria na população negra e parda.

“Tomando como exemplo o ano de 2022, 62,8% dos casos reportados ocorreram nesta parcela da população, sendo 13% entre negros e 49,8% entre pardos, em comparação com apenas 29,9% entre brancos”, relata o especialista.

Disparidade observada ainda entre gêneros, ou seja, com 62,4% e 64,1% dos casos registrados em homens e mulheres negras, respectivamente. “Portanto, isto sublinha a importância de considerar os fatores sociais para uma resposta eficaz no combate ao vírus e à doença”, afirma.

Ao mesmo tempo, Madeira Neto aponta que a situação é igualmente preocupante considerando as mulheres gestantes. Em 2022, a maioria das ocorrências em grávidas com HIV era de mulheres pardas, com 52,1%, seguidas de brancas, com 28,5%, e negras, indicando 14%.

“Desse modo torna-se fundamental que as gestantes tenham acesso gratuito à terapia antirretroviral (TARV) e mantenham suas cargas virais indetectáveis na hora do parto para prevenir a transmissão vertical do vírus”, orienta.

Isto porque, destaca, apesar de um alto índice de acompanhamento pré-natal, em 2022, somente 66,8% das grávidas relataram o uso da terapia, mostrando um grande déficit na prevenção da transmissão vertical.

Outro ponto a observar, acrescenta, é a distribuição da Profilaxia Pré-Exposição (PREP), que também revela a desigualdade racial. Conforme disse, a PREP é mais utilizada pela população branca (55,6%), em comparação com indivíduos pardos (31,4%) e pretos (12,6%).

“Assim, essa diferença mais uma vez reforça a necessidade de políticas públicas mais inclusivas para assegurar o acesso justo a todos os grupos populacionais, mesmo tendo o Ministério da Saúde ampliado o número de usuários de PREP em 45% em relação ao ano anterior”, expõe.

Na sua avaliação, esse cenário revela o desafio constante que o país enfrenta para equilibrar os progressos na medicina com a necessidade de combater as desigualdades sociais e raciais.

“As políticas públicas precisam ser ajustadas para atingir todos os estratos da população, assegurando que os progressos no tratamento e prevenção do HIV/Aids estejam disponíveis para todos. A batalha contra o HIV/AIDS no país é uma trajetória de sucesso contínuo, mas também de desafios duradouros que requerem um compromisso renovado com a equidade e a inclusão”, conclui.

Principais informações sobre HIV/Aids

A AIDS, sigla em inglês para Síndrome da Imunodeficiência Adquirida, é a fase avançada da infecção pelo HIV, o vírus que causa a doença, atacando o sistema imunológico.

A infecção pode ser prevenida com o uso de preservativos, seringas limpas e testagem regular. As principais formas de transmissão do vírus são relações sexuais desprotegidas, compartilhamento de agulhas e de mãe para filho durante gravidez, parto ou amamentação.

Atualmente, a doença não tem cura, mas métodos como o PEP (Profilaxia PósExposição), através do qual paciente é tratado de forma imediata após exposição ao vírus e PREP (Profilaxia Pré-Exposição), com o uso feito de forma preventiva do antirretroviral por pessoas sem o vírus, podem ajudar a reforçar a prevenção e infecção do vírus.

Repórter Ceará

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