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Movimento Cultural Parabolização completará 20 anos com a temática ‘Deixem o Urânio no Chão’

O movimento cultural independente PARABOLIZAÇÃO, em seu 20° ano de existência, propõe para o ano de 2024, uma reflexão mais detalhada sobre a exploração da mina de urânio de Itataia, em Santa Quitéria com palestras, pinturas, teatro, música, literatura etc. Promoverá também uma singela homenagem ao Padre Ricardo (in memorian), pessoa que sempre lutou pelo povo e pela terra. Em virtude disso, iniciamos nossas considerações sobre o assunto com o texto “Deixem o urânio no chão” do artista plástico e professor Pedro Paulo, membro do movimento Parabolização – Madalena/CE.

Deixem o Urânio no Chão

Por aqui o regime é democrático, mas o povo não participa. O povo apenas vota, o resto seja o que o diabo quiser. Um império de entidades jurídicas, algoritmos e analfabetismo sistêmicos criam o cenário perfeito, para a fantasia do progresso, no qual a política tem servido a essa confusa divindade chamada mercado e não ao bem da polis.

Lamentavelmente temos mais um exemplo dessa prosperidade caiada que é a exploração da mina de urânio de Itataia em Santa Quitéria – CE. O Projeto Santa Quitéria conversa minimamente com a população local, nega a existência de povos autóctones, promete empregos, renda, estradas, progresso e esconde os reais impactos atrás de meias verdades e muito teatro. Cria redes sociais, higieniza seus perfis e minimiza a tragédia em Caetité (BA) e em Caldas (MG).

A “magnífica” extração dos minérios almejados (urânio e fosfato) pode acarretar males gravíssimos para a natureza e a população local, como: contaminação do meio ambiente, comprometimento do acesso à água, insegurança alimentar, comprometimento de renda, sofrimento psicossocial, transtornos psiquiátricos etc.

Além disso, o empreendimento exigirá uma demanda expressiva de água (aproximadamente 800 mil litros por hora), isso equivale a 119 pipas por hora. Somente isso seria suficiente para justificar a inviabilidade de tal projeto, pois estamos falando do semiárido, uma região que sempre sofreu e sofre com a escassez de chuvas.

Para nós, a água não é só símbolo da vida, mas de esperança, permanência e independência. Quantos nordestinos não ficaram, à beira da estrada, sedentos, secando ao sol escaldante? Quantos josias não se transformaram em gravetos pelo caminho sem fim? Quantos vaqueiros não deixaram para traz seu povo?

Quantas mães não encheram cabaças com lágrimas? Enfim, quantos currais ainda mais precisam ser erguidos para o povo cearense? Em 1915 e 1932 construíram campos com estacas e arames, agora querem construir cercas imaginárias com urânio e câncer.

Há uma estimativa de 20 anos para explorar a mina e uma vaga possibilidade de recuperação da região. Esse projeto nos dará de presente um bolo amarelo e muito lixo cancerígeno.

Que investimento tão belo é esse que traz em seu bojo a notória possibilidade de poluir rios, açudes, ar, floresta e matar pessoas?

Este ano é mais um ano político e aqui chamamos a atenção dos representantes do povo e não do mercado, a mina coloca em risco a vida da população local, pensem um pouco, usem o poder que têm, usem melhor a tribuna da casa que dizem que é do povo.

A vida já é tão breve, por que antecipar a morte e judiar ainda mais com a população que tanto já sofreu? Isso é progresso? Será que precisamos realmente disso? O Ceará precisa? O país precisa? Afinal quem é mesmo que ganha com isso?

A Política precisa assumir seu lugar, representar o povo e desmitificar o conceito divino atribuído ao mercado. Nós precisamos lutar: “Deixem o urânio no chão!”

Movimento Cultural Independente PARABOLIZAÇÃO

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