Descobertas em 28 de agosto do ano passado, as câmeras escondidas no apartamento alugado pela deputada federal cearense Dayany Bittencourt (União) foram instaladas há pelos menos 4 anos, apontam as investigações da Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF). A informação foi revelada pelo Diário do Nordeste.
Na conclusão do relatório prévio, assinado pela Agente de Polícia, Dayse Eduardo de Oliveira, indica que “ao analisar as imagens foi possível comprovar que a instalação das câmeras foi feita muito antes da comunicante/vítima locar o imóvel, já que a primeira imagem data do dia 03 de janeiro de 2020”.
O caso veio à tona na última quarta-feira, 17, quando a parlamentar se pronunciou sobre o episódio, até então apurado em segredo de Justiça.
Conforme o inquérito policial ao qual o Diário do Nordeste teve acesso, assessores da parlamentar encontraram as câmeras escondidas camufladas entre sensores de fumaça e disparadores de água no interior do imóvel.
Em um alçapão na cozinha, os assessores ainda encontraram um gravador digital de vídeo. Em seu depoimento, a deputada disse acreditar que as câmeras poderiam estar espionando, além dela, o seu esposo, o ex-deputado federal Capitão Wagner (União). “Acredita que pode ser alguma ação relacionada a sua atividade politica ou de seu esposo ex-deputado Federal Capitão Wagner que atuou muito contra o crime organizado em geral e no Estado do Ceará”, narra o depoimento.
A perícia policial encontrou, entre outros objetos, duas fontes de energia; uma faca; quatro câmeras; uma fonte de energia e um estabilizador. Uma das câmeras estava direcionada para a cama, as outras apontavam para o banheiro, a sala e a cozinha. Em 18 de setembro do ano passado, os investigadores colheram o depoimento de um corretor de imóveis que disse já ter trabalhado com segurança eletrônica e instalação de câmeras, alarmes e cercas elétricas.
Instalação das câmeras
Embora as primeiras imagens sejam de 2020, as investigações ainda não garantem a data exata em que os equipamentos foram instalados no local. No depoimento, o corretor disse ter feito a instalação de câmeras no apartamento em um período entre sete e dez anos atrás. O serviço, segundo ele, foi contratado pelo então proprietário, “um senhor de aproximadamente cinquenta anos de idade”.
“O declarante se recorda de haver instalado uma câmera no banheiro da unidade, o que chamou sua atenção”, relata o inquérito. O homem disse ainda que as imagens poderiam ser acessadas remotamente, desde que o aparelho de armazenamento estivesse conectado à internet.
“Lembra bem que a câmera ficou escondida, pois foi instalada num detector de fumaça. Também lembra que foram instaladas de três a quatro câmeras no imóvel, de modo que além, do banheiro, foram instaladas também na sala e na cozinha”, relata o inquérito.
Ouvido pela Polícia, o ex-proprietário do imóvel admitiu que instalou as câmeras. Ele, que morou no local de 2011 a 2020, disse ainda que nunca teve acesso às imagens capturadas pelo sistema.
“Diz que colocou as câmeras na época porque estava desconfiando que a camareira estava subtraindo alguns objetos do declarante. No entanto, o declarante diz que nunca aprendeu a acessar o sistema corretamente de modo que as câmeras não cumpriram com sua finalidade. Como não conseguia acessar as imagens, o declarante sequer se lembrou de informar a [atual proprietária] da existência desse sistema quando vendeu o imóvel”, narra o inquérito.
Dayany não seria alvo de espionagem, diz relatório
Com os depoimentos, um dos relatórios enviado ao delegado do caso aponta que Dayany não seria alvo de espionagem, já que as câmeras teriam sido instaladas muitos anos antes dela alugar o imóvel. Reforça essa tese outro relatório da perícia que analisou 164,3 mil registros audiovisuais que estavam armazenados nos equipamentos apreendidos.
Conforme a investigadora responsável pela apuração, as gravações pareciam se sobrepor umas às outras de tempos em tempos, por isso, as imagens mais antigas capturadas foram de 3 de janeiro de 2020 e as últimas de 28 de agosto de 2023, uma semana após Dayany se mudar para o imóvel.
“São praticamente ‘flashes’, com duração rápida, de apenas segundos, de modo que para analisá-las melhor foi necessário pausar as imagens e avançar lentamente. Além disso, algumas imagens indicam uma data recente, no entanto, mostram imagens do antigo dono ainda em 2020”, narra a agente da Polícia Civil.
Ainda segundo ela, em apenas duas imagens, ambas do dia 24/08/2023, aparece uma mulher, mas não era a deputada federal e sim uma funcionária da imobiliária responsável pelo imóvel.
“No período em que a comunicante/vítima residiu no imóvel, nenhuma imagem sua foi capturada”, reforça a investigadora. Em novo laudo pericial, consta ainda no inquérito que não havia cabos ou adaptadores de conexão com a internet que pudessem enviar as imagens capturadas para acesso remoto.
“Diante das informações constantes nos relatórios anteriores e no Laudo de Perícia Criminal 206/2024, podemos afirmar que nenhum fato criminoso foi constatado que corroborasse com as suspeitas iniciais de violação de domicílio”, concluiu uma investigadora encarregada do caso em relatório enviado ao delegado.
Com os laudos periciais e os relatórios da investigação, o delegado Bruno Dias Galvão Cavalcanti, responsável pelo caso, enviou novos questionamentos ao Instituto de Criminalística da Polícia Civil.
Ele apura agora se há possibilidade de o antigo proprietário ter acessado as filmagens em tempo real e guardado todas elas em uma memória externa sem deixar vestígio. O delegado pergunta ainda se tudo que foi armazenado e analisado é também tudo que foi computado pelas câmeras. Por fim, Cavalcanti quer saber se há possibilidade de imagens de Dayany e Capitão Wagner terem sido produzidas e salvas em outra memória.