Home Terezinha Oliveira Boiadeiro

Boiadeiro

O povoamento do imenso sertão nordestino e o florescimento de prósperas vilas deveu-se ao sucesso das fazendas de gado no áureo Ciclo do Couro, cujos personagens centrais foram os homens vestidos com o gibão e as perneiras, carregando alforjes de couro, enquanto zelavam pelos animais nos currais e nos pastos

Foto: Arquivo pessoal

Quando os europeus alcançaram as terras do outro lado do Atlântico se instalaram em uma orla com belas praias, clima ameno, muitas palmeiras e fontes de água pura. Não estavam nas Índias das cobiçadas especiarias; chegaram em um lugar desconhecido onde se destacava uma árvore de nome “Pau Brasil”. A região era habitada por indígenas de aspectos e costumes diferentes dos viajantes. As 13 caravelas desta expedição transportavam um grupo de pessoas incumbidas de tomar posse das novas terras em nome da Coroa Portuguesa, explorando suas riquezas e implantando novos assentamentos. O sucesso da produção açucareira demandava áreas extensas na Zona da Mata tornando incompatível o criatório do gado naquele trecho, forçando a interiorização da atividade pecuária. Enquanto a população aumentava no litoral, era maior a demanda por alimentos (carne e leite). Então as comitivas adentraram pelos vales dos rios no árido Sertão buscando áreas propícias à instalação de fazendas de gado. Essa atividade pastoril foi responsável pelo povoamento do Sertão e se deve aos destemidos “tangedores” dos rebanhos que enfrentaram espinhos, escassez de água e muito calor, além de enfrentarem corajosamente um bioma desconhecido e longe de suas famílias.

Entre o boiadeiro e seu rebanho parece que se estabeleceu uma comunicação peculiar. O animal reconhece a voz do seu guiador e os vaqueiros desenvolveram um elemento sonoro pleno de poesia – o aboio. Esse é um canto dolente em momentos de despedidas e os historiadores relacionam sua estrutura melódica a cânticos ligados às religiões: as orações nas mesquitas e também os cânticos gregorianos. Até os dias atuais a figura que mais representa a Região Nordeste é sem dúvida o vaqueiro – corajoso em suas empreitadas na mata hostil e afável no trato com o rebanho. Se um animal adoece recebe seus cuidados e o trato envolve o preparo de remédios naturais.

O povoamento do imenso sertão nordestino e o florescimento de prósperas vilas deveu-se ao sucesso das fazendas de gado no áureo Ciclo do Couro, cujos personagens centrais foram os homens vestidos com o gibão e as perneiras, carregando alforjes de couro, enquanto zelavam pelos animais nos currais e nos pastos. Quixeramobim foi uma das primeiras povoações instaladas no interior cearense. Teve origem no criatório bovino na Fazenda Santo Antônio do Boqueirão e à capela edificada em louvor àquele santo. Portanto, os Vaqueiros merecem todas as honras quando se comemora a Festa do Padroeiro e/ou a criação do Município. Foram eles os desbravadores desta porção do Brasil e seus esforços e vidas árduas fincaram a civilização sertaneja.

Ainda bem que o maior ícone da cultura nordestina – Sua Majestade LUIZ LUA GONZAGA DO NASCIMENTO – honrou os vaqueiros adotando a indumentária dos campeadores da caatinga: o chapéu de couro e o gibão.

Dedico esse simples texto ao meu querido amigo vaqueiro e grande aboiador LUIZ MONTEIRO, que em 1980 foi ao Estádio Castelão aboiar em homenagem ao Papa João Paulo II. Seu Luiz entoava os melódicos sons nos eventos ligados aos nossos heróis campestres. E para todos que enfrentam a labuta nos currais do sertão dedico um trecho da canção que Gonzagão eternizou:

“De manhãzinha quando eu sigo pela estrada
Minha boiada pra invernada eu vou levar
São dez cabeça é muito pouco é quase nada
Mas não tem outras mais bonitas no lugar
Vai boiadeiro, que o dia já vem
Leva o teu gado e vai pensando no teu bem.”

Deixe seu comentário:

Please enter your comment!
Please enter your name here