Há pouco mais de quatro anos, em um dos primeiros textos de nossa coluna, imaginamos o que as eleições norte-americanas de 2020 afetariam o Brasil. Na ocasião, o então presidente Donald Trump iria enfrentar Joe Biden. Hoje, a disputa é entre Trump -derrotado por Biden – e a atual vice-presidente Kamala. Em uma eleição que beira a disputa voto a voto como ocorrida em Fortaleza – mas com um sistema eleitoral bem mais bagunçado que o brasileiro -, que vença o male menor.
Falamos isso com a consciência de que, como acordado pelo presidente Lula durante entrevista em seu cárcere, “americano pensa em americano em 1º lugar, pensa em americano em 2º lugar, pensa em americano em 3º lugar” e, caso sobre espaço e tempo, pensará em americano nos próximos lugares. Dessa forma, não importa quem governe, o mundo estará – infelizmente ainda – à mercê dos desmandos imperialistas da nação norte-americana. O que está posto na disputa estadunidense, porém, coloca em xeque a própria noção de democracia. Trump perdeu às eleições de 2020, mas nunca aceitou o resultado e insuflou, em solo yankee, uma confusão generalizada com cenas que espantaram o mundo – a quebradeira no Capitólio, o congresso dos Estados Unidos. Sua ação inspirou sua prole tropical que, em 8 de janeiro de 2023, após Bolsonaro perder a presidência para Lula, não aceitar a derrota e fugir, infligiu um ataque aos poderes da República, em Brasília.
No mesmo texto, em agosto de 2020, apontamos a escolha de Biden por sua então candidata a vice, Harris, acertada pelo contexto. Nesse ano, o mesmo Biden abdicou, após pressões da sociedade e seu partido, da candidatura à reeleição e endossou o nome de Kamala para a liderança da chapa democrata. Kamala não é tão diferente de Trump como Lula é de Bolsonaro – a política norte-americana é, estavelmente, de direita e isso é inconteste. Porém, a democrata representa, para um mundo civilizado e político, um male menor que a volta do bilionário ao poder. Um retorno de Trump à Casa Branca reacenderia brasas que ainda estão bem quentes no mundo sobre o poder da extrema-direita. Evitar esse cenário é o caminho mais seguro para uma nova tentativa de isolamento dos pensamentos, discursos e narrativas extremistas – não fosse isso, o próprio Lula, que evita tecer comentários ou “torcidas” em eleições estrangeiras, não teria falado publicamente que espera que Harris vença a disputa.
Como colocamos, o sistema eleitoral norte-americano é muito mais bagunçado que o brasileiro – tanto que, com a eleição marcada para uma terça, 5 de novembro, mais de 80 milhões de pessoas já haviam votado de forma antecipada pelos Correios. Logo, o resultado da disputa só deverá ser consolidado próximo do fim da semana. Até lá, os olhos do mundo estarão vigilantes sobre quem os delegados do Colégio Eleitoral do império em decadência irão votar. Em decadência sim, mas ainda poderoso e perigoso suficiente para cair nas mãos do pior.