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“Não foi muito emocionante”. Mas o que tocaria o coração de um monstro?

A bispa Mariann apenas cumpriu seu papel de cristã, devota da sabedoria e bondade de Cristo quando pediu, em meio a uma igreja lotada de hipócritas, por “misericórdia” para aqueles que o Senhor tanto defendeu em vida. Sua tentativa, apesar da repercussão, não atingiu o principal objetivo: tocar o coração de Donald Trump

Foto: Reprodução/Instagram/@realdonaldtrump

Desde que reassumiu a presidência dos Estados Unidos, há apenas três dias, Donald Trump se vê envolto em polêmicas. Das Ordens Executivas assinadas que passam por cima da autonomia dos estados norte-americanos aos gestos supremacistas e nazistas feitos por membros de seu governo e apoiadores, o republicano conseguiu o feito de superar, em menos de uma semana, os absurdos que cometeu em sua primeira passagem pela Casa Branca, entre 2017 e 2021. Não que isso seja um problema para Trump ou quem o apoia: na verdade, esse tipo de situação retroalimenta o espectro político do bilionário -a extrema-direita, e o faz ganhar a pauta do debate público.

Uma das situações, porém, tem ganhado corpo nas últimas horas e havia despertado meu interesse no dia em que ocorrera. Em meio a todo o poder que Trump está envolto, que o faz se sentir um homem invencível, inalcançável e um enviado divino, uma bispa falou “na cara” laranja do presidente a mensagem que a humanidade -no real sentido da palavra- queria. Mariann Edgar Budde, da Diocese Episcopal de Washington, durante sua palavra no National Prayer -culto inter-religioso em oração ao novo presidente- pediu que Trump tivesse “misericórdia” das minorias que ele ataca há tempos e que foram alvo de diversas ordens imediatas após a posse. Minorias, pessoas LGBTQIA+, imigrantes foram incluídos na clemência da religiosa.

Frente a frente com um Trump visivelmente incomodado e centenas de apoiadores e membros do gabinete dele, a bispa falou do medo que se instaurou no país, do ódio que essas decisões alimentam contra essas pessoas e de como são populações que existem no seio familiar de qualquer um -democrata, republicado, independente. Sua fala, de coragem, expressou aquilo que todo verdadeiro cristão, ou melhor, verdadeiro humano deveria defender: a liberdade de ser quem é, de viver, de trabalhar, de amar e ser amado, de respeitar e ser respeitado. Em um mundo em que conservadores ladram tanto pelos “bons costumes cristãos”, o desrespeito a qualquer aspecto da fala de Mariann deveria ser combatido. A resposta que esses deram, representada pelo breve comentário e Trump após a cerimônia, porém, mostra a frieza e falta de humanidade desse estrato: “não foi muito emocionante”.

O comentário do republicano incendiou seus apoiadores, que atacam a bispa como urubus. Com o aumento da repercussão, o presidente dobrou a aposta e aumentou a extensão de sua fala, chamando a religiosa de “suposta bispa”, “desagradável”, “esquerdista radical”, e exigiu desculpas. Mariann já declarou que não vai se desculpar, mas que reza por Trump. Confesso que, apesar da admiração pela coragem da bispa, de forma particular, sabia que seu pedido seria ‘em vão’. Separar crianças de pais e coloca-las em jaulas, dizer que vai acabar com a “loucura transgênero” e encerrar todas as políticas de diversidade, promover uma caça às bruxas entre servidores do governo, declarar abertamente que vai invadir e anexar territórios de outras nações são só exemplos recentes de quem são Trump e seus aliados de direita mundo a fora -inclusive no Brasil. 

Não pessoas. Podem ser da mesma espécie, mas humanos não são. A clemência de alguém, por maior que seja, não pode tocar o coração daqueles que não tem coração. Talvez a única coisa que toque o que tem dentro deles -uma bobina de caixa eletrônico, quem sabe- seja o dinheiro. São em natureza monstros, e monstros, dos contos de infância aos filmes atuais, precisam sem combatidos.

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