A movimentação de deputados do PL e de parte do Centrão para reduzir o prazo de inelegibilidade previsto na Lei da Ficha Limpa pode mudar radicalmente o cenário eleitoral de 2026.
O objetivo é tornar Jair Bolsonaro apto a disputar eleições novamente, encurtando a punição para crimes eleitorais de oito para dois anos. Se aprovada até outubro deste ano, a medida poderia abrir caminho para que Bolsonaro voltasse às urnas já no próximo ciclo eleitoral.
A ironia desse movimento está no fato de que a Lei da Ficha Limpa foi defendida por muitos dos parlamentares que hoje buscam alterá-la. Criada sob forte pressão popular para impedir a candidatura de políticos condenados por corrupção e abuso de poder, a legislação foi uma bandeira da direita por anos.
Agora, os mesmos grupos, que antes defendiam rigor na inelegibilidade, tentam flexibilizar as regras para favorecer seu principal líder. Um pragmatismo que beira o cinismo.
A direita segue com sua estratégia de “furar buracos” na legislação. E pode dar certo. No jogo político, mudar leis para beneficiar determinados grupos não é novidade. Se a esquerda não se articular, pode assistir a um verdadeiro “olé” jurídico, com Bolsonaro voltando para o jogo e reocupando o espaço que hoje busca manter vivo por meio de aliados.
No fim das contas, a aprovação desse projeto abriria um precedente perigoso para outras disputas eleitorais. Se a inelegibilidade pode ser ajustada conforme a conveniência política do momento, a própria credibilidade das punições eleitorais entra em xeque.
Esse debate não se resume apenas a Bolsonaro, mas ao próprio funcionamento da democracia brasileira e aos limites que o Congresso está disposto a impor ou flexibilizar para favorecer seus interesses. Segue o jogo.