O setor atacadista de alimentos no Ceará encerrou o ano de 2024 com um crescimento expressivo nas vendas, atingindo um aumento de 6,7% em comparação ao ano anterior. O desempenho positivo contrasta fortemente com o cenário nacional, onde o setor registrou uma queda de 7,1% nas vendas de janeiro a dezembro. Os dados foram divulgados pelo Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará (Ipece).
Expansão de redes e novos players
O crescimento do setor atacadista alimentício no Ceará é atribuído, principalmente, à expansão das redes de atacarejo e à entrada de novos players no mercado local. Um dos destaques é o Grupo Mateus, que continua expandindo suas operações em Fortaleza, na Região Metropolitana e em diversas cidades do interior do estado. Essa estratégia tem impulsionado as vendas e fortalecido o comércio cearense, como explica Alexsandre Lira Cavalcante, analista de Política Públicas do Ipece, ao Diário do Nordeste:
“O grupo Mateus, por exemplo, tem expandido suas atividades aqui no Ceará, não só em Fortaleza, como na Região Metropolitana e em cidades do interior do estado. O Ceará tem sido puxado muito pelas vendas do comércio.”
A movimentação das redes atacadistas tem seguido a lógica de ocupação de áreas com grande contingente populacional, considerando que “onde tem pessoas, tem consumo”, uma máxima seguida pelas grandes varejistas na definição de suas estratégias de expansão.
Transferência de compras e fatores econômicos
O crescimento dos atacarejos também está relacionado a fatores econômicos importantes. De acordo com Ulysses Reis, especialista em varejo e professor da Strong Business School, períodos de inflação contribuem para uma migração de compras de lojas especializadas para atacarejos, onde os preços são geralmente mais acessíveis.
Outro fenômeno relevante é a reduflação, prática em que os fornecedores reduzem o tamanho dos produtos sem diminuir o preço, mantendo assim a margem de lucro. Esse fenômeno é mais comum nos supermercados convencionais, o que leva os consumidores a buscar preços mais vantajosos em redes de atacado.
“Nos supermercados, você vai ter chocolate com a menor gramatura, sabão em pó com quantidade menor. A reduflação faz com que a gramatura do produto diminua, mas o preço se mantenha”, explica Ulysses Reis.
Além disso, as redes cearenses têm demonstrado uma percepção mais clara sobre o mercado local, ajustando seus investimentos para oferecer preços mais atrativos aos consumidores. Isso se reflete, especialmente, nas camadas mais pobres da população, que direcionam grande parte da renda para a alimentação, favorecendo o modelo atacadista.
Vendas no varejo cearense também crescem
O varejo cearense como um todo apresentou um desempenho positivo ao longo de 2024, com um crescimento de 7,8% no volume de vendas, de acordo com o Ipece. Esse resultado supera também a média nacional do varejo, que cresceu 4,7% no mesmo período.
Esse é o segundo melhor resultado do varejo cearense nos últimos cinco anos e marca um ciclo de 35 meses consecutivos de crescimento, iniciado em fevereiro de 2022. Entre os segmentos que mais cresceram, destacam-se os artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos e de perfumaria, com uma alta de 17,9%.
Perspectivas para o Setor
O desempenho positivo do setor atacadista alimentício e do varejo em geral no Ceará mostra que o estado está em um ritmo diferenciado de crescimento, mesmo diante de desafios econômicos enfrentados em nível nacional. A continuidade da expansão das redes de atacarejo e a adaptação às demandas locais são fatores que devem continuar impulsionando o comércio cearense nos próximos anos.