Entre buracos no gramado e incertezas nos bastidores, o Quixadá Futebol Clube provou neste fim de semana que a força de um time vai muito além da estrutura que o cerca. O Canarinho do Sertão está de volta à Série A do Campeonato Cearense, após uma vitória heroica contra o Crato que levou a decisão para os pênaltis e selou o retorno aguardado há uma década.
O acesso veio com emoção. Precisando reverter a derrota por 3 a 1 no jogo de ida, o técnico Juranilson Vieira apostou tudo no ataque e colocou em campo uma equipe ofensiva e vibrante, que respondeu com intensidade. Logo aos cinco minutos, Paulo Júnior abriu o placar e reacendeu a esperança no Abilhão, que recebeu a torcida em clima de decisão. O segundo gol, marcado por Rodrigo Canindé, veio no momento certo para empatar o confronto no agregado e levar a disputa para as penalidades.
Foi nos pênaltis que o goleiro Kerven Duarte brilhou. Ele defendeu duas cobranças cruciais, incluindo o chute de Rogerinho, que poderia ter garantido o acesso ao Crato. Com a vitória por 7 a 6 nas penalidades, a explosão de alegria no estádio foi a prova viva de que, mesmo diante de tantos desafios, o Quixadá não desistiu do seu sonho.
O peso das dificuldades fora de campo
A conquista do Quixadá ganha contornos ainda mais épicos quando se considera o cenário ao redor. O time convive com uma estrutura limitada, baixo investimento e um estádio que, em muitos momentos, mais atrapalhou do que ajudou. O gramado do Estádio Abilhão, alvo de críticas constantes da torcida e da imprensa local, tem sido apontado como um verdadeiro “adversário invisível”.
Na campanha de acesso, o time chegou a perder por 4 a 1 para o Icasa jogando em casa — em um campo com condições que beiram o impraticável. Fora de casa, contra o mesmo adversário, conseguiu um empate valioso. O contraste reforça a tese de que, enquanto o time luta em campo, fora dele o apoio é escasso.
Mesmo com essas limitações, o Quixinha mostrou que é possível ir além. Com garra, inteligência tática e uma torcida apaixonada, o clube deixou para trás a Série B e agora tem a chance de disputar o título contra o Maranguape, também garantido na elite.
Mais que futebol: um recado à cidade
O retorno do Quixadá à Série A é também um recado à cidade: o futebol resiste, mesmo quando falta o básico. Falta um gramado digno, investimento sólido e políticas públicas de apoio ao esporte. Mas não faltou entrega. Não faltou paixão. E isso foi o suficiente para recolocar o Canarinho do Sertão no topo.
Agora, o clube espera que o feito histórico inspire mudanças fora de campo. Afinal, a Série A exige mais do que talento — exige estrutura, respeito ao esporte e à comunidade que o sustenta.
O Quixadá chegou lá. Contra tudo. Contra todos. Inclusive contra o próprio campo.