Nas últimas décadas, a Semana Santa tem sido, para muitos, cada vez menos um tempo de espiritualidade e mais uma oportunidade de lazer prolongado. Transformada em feriado estendido, a data é frequentemente marcada por viagens, festas, ostentações e experiências gastronômicas requintadas. Enquanto resorts lotam, restaurantes elaboram cardápios especiais e o comércio bate recordes de vendas de ovos de chocolate, vinhos, mariscos e queijos finos, o verdadeiro significado desse período se esvai diante de nossos olhos.
A Semana Santa, no calendário cristão, representa muito mais do que dias de descanso. Ela marca a paixão, morte e ressurreição de Jesus Cristo — um tempo de silêncio interior, de conversão, de jejum e, sobretudo, de profunda reflexão sobre o sacrifício de alguém que entregou a própria vida por amor à humanidade. É, portanto, um convite ao recolhimento, ao exercício da compaixão e à vivência concreta da solidariedade.
No entanto, em meio ao ruído das propagandas e das redes sociais, poucos param para refletir sobre a dor do outro, para visitar um enfermo, consolar uma alma solitária ou mesmo dividir o pão com quem não tem. Enquanto há mesas fartas de peixes nobres e chocolates importados, há milhares de famílias que sequer têm o básico para se alimentar, muito menos motivos para celebrar.
A banalização da Semana Santa é reflexo de uma sociedade que, frequentemente, troca o sagrado pelo superficial. Os dias que deveriam nos aproximar de um olhar mais humano e fraterno acabam por acentuar desigualdades e alimentar um ciclo de indiferença. Fala-se de renascimento e ressurreição, mas se esquece do sacrifício. Exalta-se o domingo de Páscoa, mas se ignora a Via Crucis.
Não se trata de condenar o descanso ou a celebração. Trata-se, sim, de resgatar o equilíbrio e o sentido. Que o feriado seja, também, momento de se colocar no lugar do outro, de rever atitudes, de deixar de lado o egoísmo e de renovar compromissos com a justiça social. Que se possa, ao menos uma vez, fazer um pequeno sacrifício em prol de quem mais precisa: seja uma doação, um gesto de perdão ou simplesmente um tempo de escuta e presença.
A Semana Santa é, antes de tudo, um chamado à transformação interior. Que ela não passe despercebida como apenas mais uma data no calendário comercial. Que ela desperte em nós um olhar mais sensível, mais generoso, mais cristão — e menos consumista.