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Fé, história e resistência: fiéis celebram São Jorge no Rio de Janeiro e refletem sobre o legado do santo guerreiro

Antes mesmo do sol nascer, às 5h da manhã, fiéis já se reuniam no bairro de Quintino, Zona Norte do Rio de Janeiro, para celebrar com queima de fogos o dia de São Jorge, um dos santos mais populares do país.

Tomaz Silva/Agência Brasil

Antes mesmo do sol nascer, às 5h da manhã, fiéis já se reuniam no bairro de Quintino, Zona Norte do Rio de Janeiro, para celebrar com queima de fogos o dia de São Jorge, um dos santos mais populares do país. No estado do Rio, a data é feriado oficial e reúne devotos em igrejas, ruas e eventos culturais em homenagem ao santo guerreiro.

Na tradição católica, São Jorge é padroeiro de soldados, cavaleiros, escoteiros, esgrimistas e arqueiros — mas é, sobretudo, símbolo de força, resistência e fé diante das batalhas da vida. De acordo com o site oficial do Vaticano, ele representa “a vitória do bem sobre o mal”, sendo um guia para superar os desafios humanos e espirituais.

Apesar da força no catolicismo, São Jorge também é reconhecido por outras vertentes cristãs, como a Igreja Anglicana e a Ortodoxa, e respeitado por praticantes de religiões de matriz africana, como umbanda e candomblé.

Entre a história e a lenda

A figura histórica de Jorge é envolta em lendas. A versão mais conhecida indica que ele nasceu na Capadócia (atual Turquia), por volta do ano 280, em uma família cristã. Alistado no exército do imperador romano Diocleciano, Jorge foi martirizado e decapitado após se recusar a perseguir cristãos, sendo reconhecido como mártir da fé.

Um dos registros mais antigos sobre ele é uma epígrafe do ano 368, encontrada em Eraclea de Betânia, que menciona uma igreja dedicada a Jorge e seus companheiros. A lenda do santo que mata um dragão e salva uma princesa, associada à cidade de Selém, na Líbia, ganhou força durante as Cruzadas e se tornou sua imagem mais icônica.

Para o historiador Luiz Antônio Simas, São Jorge faz parte do que chama de “santos do cotidiano”, aqueles que recebem pedidos para os problemas diários, como proteção, cura e justiça. “É um santo da rua”, diz ele, destacando a conexão direta com o povo.

Além do Ocidente

A simbologia de São Jorge ultrapassa fronteiras religiosas. Em algumas interpretações, ele aparece como Al-Khidr, personagem citado no Alcorão, livro sagrado do Islã. A imagem do guerreiro vitorioso em batalhas espirituais ou materiais é uma constante em diferentes culturas e tradições.

Na Inglaterra, a devoção ao santo cresceu durante a Idade Média. Em 1348, o rei Eduardo III fundou a “Ordem dos Cavaleiros de São Jorge”, e desde então ele é considerado o padroeiro da Inglaterra.

São Jorge e Ogum: fé e resistência negra

No Brasil, especialmente nas religiões de matriz africana, São Jorge é frequentemente associado ao orixá Ogum, divindade ligada à guerra, ao ferro e à proteção. Mas essa equivalência é vista com cautela por estudiosos e praticantes. A socióloga e mãe de santo Flávia Pinto explica que São Jorge não é Ogum, mas sim um “filho pródigo” do orixá.

Ela também alerta para os perigos de uma visão romantizada do sincretismo. “Não podemos chamar de maneira romântica um comportamento genocida e torturador, que foi a imposição da fé de um povo dominador sobre outros povos”, afirma, referindo-se ao processo de colonização e à tentativa de apagar as religiões africanas.

Ainda assim, Flávia destaca a resistência e sabedoria dos povos afrodescendentes, que ressignificaram elementos do cristianismo para preservar suas crenças ancestrais.

Um símbolo que transcende religiões

A popularidade de São Jorge no Brasil é um reflexo de sua múltipla representação. Para muitos, ele é um santo. Para outros, um guerreiro mítico. Mas, acima de tudo, é uma figura de esperança, de luta e de fé.

Neste 23 de abril, nas ruas do Rio e em outras partes do país, sua imagem com armadura e lança continua a inspirar milhares de devotos a seguirem firmes diante das batalhas diárias — sempre com a certeza de que, como ensina a lenda, o bem pode vencer o mal.

Com informações da Agência Brasil

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