Home 1 Minuto com Sérgio Machado Curtidas, fama e influência: a vida em exposição dos influenciadores digitais

Curtidas, fama e influência: a vida em exposição dos influenciadores digitais

Educar ou deseducar: essa talvez seja a pergunta mais importante. Influenciar, por si só, não é um problema. O problema está em como se influencia, para quê e com que propósito

A recente participação da influenciadora Virginia Fonseca na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) das Apostas reacendeu o debate sobre o papel social dos influenciadores digitais. Aos olhos do público, muitos desses personagens da internet vivem uma vida de glamour, cercada por contratos milionários, produtos de luxo e multidões de seguidores. Mas, por trás das câmeras e dos filtros, há um universo de pressões, contradições e impactos que merecem análise crítica.

A figura do influenciador digital é uma das mais marcantes do século XXI. Pessoas comuns, alçadas à fama por meio de vídeos, fotos e postagens, passaram a ocupar espaços antes reservados a celebridades tradicionais. No entanto, diferentemente de atores ou músicos, esses novos ídolos se projetam a partir da vida real – ou, pelo menos, de uma versão cuidadosamente editada dela. É aí que começa a complexidade.

A busca incessante por curtidas, visualizações e engajamento pode gerar uma lógica perversa. O valor de uma pessoa passa a ser medido por números: seguidores, alcance, parcerias. Isso cria um ambiente competitivo, onde muitos recorrem a estratégias questionáveis para se manterem relevantes – seja promovendo produtos duvidosos, como casas de apostas, seja encenando situações para “viralizar”.

Virginia, que conta com mais de 45 milhões de seguidores no Instagram, construiu sua imagem com base na espontaneidade e no estilo de vida familiar. Mas ao ser convocada a depor sobre a promoção de sites de apostas, a imagem de “influencer do bem” foi colocada em xeque. A dúvida que se impõe é: o quanto esses influenciadores têm consciência (ou responsabilidade) sobre o que promovem?

E mais: será que a maioria dos influenciadores digitais realmente influencia para o bem? A resposta não é simples. Há, sim, criadores de conteúdo que produzem material educativo, que promovem saúde mental, que discutem pautas sociais importantes. Mas, na avalanche de conteúdos vazios, danças coreografadas e ostentação desenfreada, o senso crítico do público – especialmente o mais jovem – muitas vezes se perde.

As redes sociais transformaram a influência em moeda. E como toda moeda, ela tem dois lados. Ao mesmo tempo em que democratizaram a visibilidade e permitiram que vozes antes silenciadas fossem ouvidas, essas plataformas também criaram um campo fértil para a desinformação, o consumismo e a superficialidade.

Educar ou deseducar: essa talvez seja a pergunta mais importante. Influenciar, por si só, não é um problema. O problema está em como se influencia, para quê e com que propósito. A responsabilidade, nesse cenário, deve ser compartilhada: dos influenciadores, que precisam entender o peso do seu alcance; das marcas, que devem escolher com cuidado quem representa seus produtos; e do público, que precisa desenvolver um olhar mais crítico diante do que consome.

O caso de Virginia é só um entre tantos. Ele nos alerta para a urgência de refletirmos sobre os caminhos que estamos trilhando na era digital. A fama instantânea pode ser sedutora, mas a influência, quando mal usada, tem consequências profundas. É preciso, mais do que nunca, formar influenciadores e seguidores conscientes – para que, no lugar da vaidade, floresça a responsabilidade.

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