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Entre likes e tradições: o risco da cultura cearense virar vitrine de temporada

Festas como a do Pau da Bandeira são eventos turísticos, mas também patrimônios vivos que precisam ser respeitados, mantidos e passados adiante com o mesmo cuidado com que foram recebidos. E isso vale tanto para o poder público quanto para os criadores de conteúdo. É preciso aparecer, sim, mas sem apagar quem sempre esteve ali

Foto: Clayton Felizardo/Brazilnews

A Festa de Santo Antônio, em Barbalha, continua sendo, há 97 anos, um espetáculo de fé e tradição, marcada pela beleza do Pau da Bandeira e pelo envolvimento do povo da região. Mas quem esteve por lá neste ano notou algo diferente. A quantidade de influenciadores digitais que tomou conta da cena.

É verdade que isso traz visibilidade e ajuda a atrair turistas para o Cariri, movimentando a economia local, mas também levanta um alerta. Quando os holofotes se voltam demais para os rostos da internet, o verdadeiro sentido da festa, que é profundamente cultural e popular, acaba se perdendo.

A sensação é que os influenciadores passaram a ditar o ritmo do evento, ocupando os espaços com seus conteúdos e deixando em segundo plano as pessoas que mantêm a tradição viva.

É um processo semelhante ao que se vê em Quixeramobim, onde a lógica financeira, muitas vezes guiada pela Igreja, parece sobrepor o sentido comunitário das celebrações. Quando a cultura passa a ser apenas vitrine, ela corre o risco de se tornar um produto. Bonito de ver, mas sem raiz.

Esse esvaziamento simbólico também aparece nas políticas públicas de cultura. Em Fortaleza, por exemplo, o Dragão do Mar, que já foi ponto de encontro e orgulho cultural da cidade, hoje vive um certo abandono.

A impressão é que ele foi sendo substituído por novos equipamentos, como a Estação das Artes, o MIS ou a Pinacoteca. Claro que esses espaços são igualmente importantes, mas o problema está na descontinuidade. Cada gestão quer deixar sua marca, e o que veio antes perde valor e investimento. É preciso olhar para a cultura como um projeto contínuo, que não se encerra com o fim de um mandato ou de um edital.

Festas como a do Pau da Bandeira são eventos turísticos, mas também patrimônios vivos que precisam ser respeitados, mantidos e passados adiante com o mesmo cuidado com que foram recebidos. E isso vale tanto para o poder público quanto para os criadores de conteúdo. É preciso aparecer, sim, mas sem apagar quem sempre esteve ali.

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