A medida do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de impor uma tarifa de 50% sobre todos os produtos brasileiros exportados ao país norte-americano acendeu um sinal de alerta no setor do agronegócio. De acordo com o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/USP, a decisão pode comprometer receitas, provocar distorções de mercado e pressionar os preços pagos ao produtor rural no Brasil.
Entre os segmentos mais vulneráveis ao aumento tarifário estão a produção de suco de laranja, café, carne bovina e frutas frescas. O suco de laranja, em especial, é apontado como o mais sensível, uma vez que já sofre incidência de tarifa fixa de US$ 415 por tonelada. Com a nova sobretaxa, os custos para acessar o mercado norte-americano, o segundo maior destino do produto brasileiro, devem disparar, impactando diretamente a competitividade do setor.
Atualmente, os EUA consomem cerca de 90% de suco importado, sendo que o Brasil responde por 80% desse volume. A medida de Trump coincide com uma safra robusta no estado de São Paulo e Triângulo Mineiro, com projeção de mais de 314 milhões de caixas para 2025/26. Diante da incerteza quanto à continuidade das exportações para os EUA, especialistas do Cepea temem acúmulo de estoques e queda nos preços internos.
O mercado de café também deve sentir os efeitos do tarifaço. Os EUA são o maior consumidor global da bebida e importam aproximadamente 25% da produção brasileira, especialmente da variedade arábica. Como os norte-americanos não produzem café, o aumento dos custos pode comprometer o funcionamento de torrefadoras, cafeterias e indústrias do setor. O Cepea defende a exclusão do café da nova política tarifária, por ser estratégico tanto para o Brasil quanto para os Estados Unidos.
No caso da carne bovina, os EUA são o segundo maior destino da produção brasileira, atrás apenas da China. Estados como São Paulo, Goiás e Mato Grosso do Sul lideram os embarques. Recentemente, frigoríficos norte-americanos aumentaram suas compras, o que pode ter sido uma tentativa de formação de estoques antecipando o impacto da medida. Embora tenha havido recuo nos embarques para os EUA nos últimos meses, os frigoríficos brasileiros têm conseguido ampliar suas vendas para outros mercados.
Já no setor de frutas frescas, a manga é a cultura que mais preocupa, com a janela crítica de exportações aos EUA iniciando em agosto. A indefinição em torno das tarifas já levou à postergação de embarques. A uva, que tem calendário relevante a partir de setembro, também pode ser afetada. Segundo o Cepea, a expectativa de crescimento nas exportações deu lugar a incertezas, com riscos de sobreoferta e pressão sobre os preços pagos ao produtor.
Diante desse cenário, o Cepea defende “uma articulação diplomática coordenada, com vistas à revisão ou exclusão das tarifas sobre produtos agroalimentares brasileiros”.