A separação entre vida pessoal e vida profissional tem se tornado cada vez mais tênue, especialmente em tempos de redes sociais e conectividade constante. A conduta de um trabalhador fora do expediente, aquilo que ele publica, compartilha ou comenta na internet, pode impactar diretamente sua permanência no emprego ou mesmo a sua contratação. O ambiente digital ampliou o alcance das atitudes individuais e, consequentemente, trouxe consigo uma nova responsabilidade: a de preservar não apenas a própria imagem, mas também a coerência com os valores da empresa a que se está vinculado.
Postagens ofensivas, conteúdos preconceituosos, vídeos inapropriados, manifestações públicas de ódio ou posicionamentos políticos radicais têm sido motivo para advertências, demissões e cancelamentos. Ainda que fora do horário de trabalho, o comportamento nas redes sociais pode ser interpretado como “mau procedimento” ou “incontinência de conduta”, hipóteses previstas no artigo 482 da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) como justificativas legais para demissão por justa causa. Quando um colaborador compromete a imagem institucional de uma empresa, mesmo de maneira indireta, há respaldo jurídico para que ele seja desligado, sobretudo quando a conduta se torna pública e gera repercussão negativa.
Além disso, o uso indevido de celulares durante o expediente se apresenta como outro desafio comum nas relações de trabalho. Distrações frequentes causadas por mensagens, redes sociais e vídeos afetam a produtividade, a qualidade da entrega e, em muitos casos, a segurança da atividade exercida, principalmente em setores operacionais. Empresas têm o direito de limitar ou proibir o uso de aparelhos pessoais em horário de trabalho, desde que essa política esteja claramente estabelecida em seus regulamentos internos ou nos contratos firmados com os colaboradores. O desrespeito a essas normas pode gerar medidas disciplinares e, em casos mais graves, também configurar justa causa.
Outro ponto delicado é o uso da liberdade de expressão para justificar discursos que podem ser considerados ofensivos, discriminatórios ou incompatíveis com a postura esperada de um profissional. Embora a Constituição Federal assegure esse direito a todos os cidadãos, ele não é absoluto. Nenhuma liberdade pode ser usada para violar a dignidade alheia ou propagar mensagens de ódio. Dessa forma, opiniões políticas radicais, falas ofensivas ou a exposição de conteúdos vazios, que beiram a irresponsabilidade, podem comprometer a reputação de quem as publica e, em consequência, sua estabilidade no emprego. Profissionais que exercem funções de confiança ou que representam instituições, como jornalistas, professores, servidores públicos ou lideranças comunitárias, são ainda mais cobrados quanto à coerência entre o discurso e a postura pública.
No momento da contratação, a realidade também mudou. É comum que recrutadores pesquisem perfis públicos de candidatos nas redes sociais antes mesmo da primeira entrevista. Atitudes e opiniões ali expressas servem como termômetro do comportamento do profissional, da sua postura ética e do alinhamento com a cultura da empresa. Nesse cenário, a construção de uma imagem responsável e respeitosa passa a ser também um ativo profissional.
Em tempos de visibilidade constante, o comportamento fora do expediente não é mais invisível aos olhos do empregador. Vivemos uma era em que a reputação é construída diariamente e onde a conduta pessoal tem, sim, peso profissional. Por isso, é necessário compreender que a liberdade exige responsabilidade, e que o uso consciente das redes sociais, do celular e da palavra é essencial para quem deseja manter e fortalecer sua trajetória no mercado de trabalho.