A aprovação da chamada PEC da Blindagem ontem acende várias questões, mas a principal é saber até que ponto os parlamentares querem se proteger da Justiça.
A proposta dificulta o andamento de processos judiciais contra deputados e senadores, criando mais barreiras para que denúncias avancem. No papel, fala-se em “garantir independência”, mas, na prática, a leitura é de autoproteção.
Quase 70% dos deputados federais da bancada cearense votaram a favor. E aqui não se trata só de um ou outro partido, mas de uma escolha que atravessou várias siglas. Isso porque as direções nacionais, inclusive de partidos da base governista, deixaram seus deputados livres para votar como quisessem.
O resultado foi um alinhamento amplo, que expõe como a classe política, em momentos assim, tende a fechar fileiras em torno dos próprios interesses.
O curioso é que, no discurso público, muitos desses mesmos parlamentares defendem bandeiras de ética e transparência. Mas na hora do voto, a prioridade parece ser criar um colchão de proteção.
Será que o eleitor, que acompanha de longe, entende que essa PEC parece mais feita para blindar políticos do que para proteger a democracia?
Quando o assunto ameaça diretamente os parlamentares, há uma coesão que dificilmente se vê em pautas sociais ou econômicas. Se fosse para votar algo que aliviasse a vida do trabalhador, dificilmente teríamos quase 70% de consenso. Mas quando é para tratar da própria pele, a pressa e a unidade aparecem.
A política ainda tem dificuldade de separar o que é interesse coletivo do que é corporativismo. O eleitor cearense, que já lida com tantos desafios no dia a dia, pode não sentir o efeito imediato dessa PEC, mas esperamos que lembre quem escolheu fortalecer a blindagem em vez da transparência. Isso pode pesar nas urnas.
