Em tempos de emergência climática, um projeto científico desenvolvido em Quixeramobim, no Sertão Central do Ceará, chama atenção ao destacar o papel dos idosos como guardiões de memórias ambientais e saberes tradicionais. A iniciativa, chamada “INTERAÇÃO: Os plurais de uma causa singular”, é realizada por alunos da Escola Profissional Dr. José Alves da Silveira e, neste ano, aborda o tema “O papel do idoso na crise climática: um símbolo crucial para a construção da pluralidade de saberes”.
O estudo, conduzido pelos alunos Pedro Lucas e Robson Diêgo, sob orientação da professora Gerleide Santos, propõe um diálogo entre conhecimento científico e saber popular, destacando como as experiências de vida dos mais velhos podem contribuir para a preservação ambiental.
Segundo o projeto, idosos acumulam ao longo da vida registros importantes sobre mudanças no ecossistema, nos padrões de chuva, no comportamento da fauna e em práticas agrícolas mais sustentáveis. Agricultores relatam o desaparecimento de nascentes, pescadores guardam lembranças sobre os cardumes e mulheres mais velhas recordam tradições de cuidado com o solo, uso de plantas medicinais e aproveitamento integral dos alimentos.
“Essas memórias constituem um banco de dados histórico-ambiental, frequentemente ignorado. Tais registros orais, quando sistematizados e colocados em diálogo com os saberes científicos, podem informar ações de reflorestamento, conservação da biodiversidade e gestão de recursos hídricos”, destaca o estudo.
Valorização local
O projeto tem como cenário instituições de apoio à terceira idade em Quixeramobim, como a Casa do Ancião e o Centro de Convivência do Idoso, e busca não apenas reconhecer a importância desses saberes, mas também garantir protagonismo aos idosos no debate ambiental.
A proposta aposta ainda em uma educação ambiental intergeracional, em que idosos atuam como narradores de histórias ambientais e conselheiros locais. Dessa forma, crianças e jovens podem desenvolver senso crítico e pertencimento ao território, transformando memórias em sementes para um futuro sustentável.
Para os idealizadores, diante da crise climática é fundamental ampliar a escuta e incluir diferentes formas de saber na busca por soluções. “Os idosos, com suas memórias e experiências, não devem ser vistos como sujeitos passivos, mas como agentes ativos na conservação ambiental. Ao reconhecermos a potência pedagógica e política de suas histórias, avançamos rumo a uma ecologia mais justa, solidária e enraizada nas realidades locais”, destaca o projeto.