Home Fabrício Moreira da Costa A Política do movimento e a urgência da verdade

A Política do movimento e a urgência da verdade

Quando me deparo com pesquisas falsas, notícias plantadas e caminhos deliberadamente obscuros e sem sinalização, fortalece-se em mim o entendimento de que é imperativo regular as mídias sociais. É preciso criar mecanismos para uma tipificação penal capaz de inibir aqueles que não possuem pudor algum em mentir

Foto: Viktollio/Shutterstock

Sempre ressoou em minha memória a assertiva de um talentoso líder político cearense, que com notável clareza distinguia as duas faces do poder: a política e as eleições, segundo ele, são essencialmente movimentos; já a gestão é um ofício distinto, que demanda capacidade técnica, escolhas criteriosas e, acima de tudo, compromisso. Esta lição, de uma simplicidade profunda, revela o cerne da crise de representatividade que hoje vivenciamos.

​A eleição, em sua natureza, consubstancia-se em um grande espetáculo de marketing, discurso, presença e busca por apoios e imagem. É a arena onde se projeta o ideal. Contudo, correndo por fora, emerge uma nefasta cartilha que inclui a desinformação, as fake news, a maledicência, a ousadia desmedida, as pesquisas fraudulentas e as intrigas palacianas. Para aqueles que não se atualizaram com as boas práticas democráticas, somam-se a isso as agressões graciosas aos adversários, transformando o debate em um campo de batalha desprovido de honra.

​A consequência mais danosa de tal cenário é a retirada de pauta do que há de mais sublime na democracia: a paixão do cidadão por seu escolhido e pelo processo eleitoral como um todo. O entusiasmo cívico, que outrora movia multidões, é substituído pela desconfiança e pelo cansaço. A inversão de valores e, logicamente, os altíssimos custos de uma campanha e as recompensas que ela pode proporcionar, faz com que todos percamos o arrepiamento ao ouvir a boa oratória, ao analisar propostas factíveis e, até mesmo, ao nos permitirmos conjugar o verbo “eu acredito”.

​Quando me deparo com pesquisas falsas, notícias plantadas e caminhos deliberadamente obscuros e sem sinalização, fortalece-se em mim o entendimento de que é imperativo regular as mídias sociais. É preciso criar mecanismos para uma tipificação penal capaz de inibir aqueles que não possuem pudor algum em mentir. E que fique claro: não me refiro ao debate de opiniões, às sugestões ou às paixões políticas, que são legítimas. Refiro-me, repito, à mentira industrialmente plantada para corromper a vontade popular.

​Talvez fosse um caminho mais célere e eficaz encontrar mecanismos idôneos para tipificar a criação e a disseminação dolosa de fake news como crime hediondo, do que insistir com o que se convencionou chamar de “inquérito do fim do mundo” sobre o tema, que hoje dorme ou se esconde nos labirintos do Supremo Tribunal Federal – STF.

A verdade não pode ser uma opção em uma democracia; ela é sua condição de existência.

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