À medida que o calendário avança, a indagação que ecoa nos bastidores da política cearense se torna mais nítida e urgente: quem, de fato, pautará a construção das chapas majoritárias para as eleições de 2026? O cenário atual se desenha como um tabuleiro complexo, com múltiplos centros de poder e estratégias em pleno movimento.
De um lado, a força institucional do Partido dos Trabalhadores (PT) se apresenta como um pilar robusto. A legenda detém o Palácio da Abolição sob o comando do governador Elmano de Freitas e conta com o capital político do ex-governador e influente Ministro da Educação, Camilo Santana, figura de trânsito direto com o presidente Lula. Esta estrutura confere ao PT uma vantagem natural na articulação da base governista.
Paralelamente, os aliados demonstram vigor e ambição. O PSB, sob a batuta do senador Cid Gomes e de Eudoro Santana (pai do Camilo), exibiu notável capacidade de atração ao selar, em grande evento partidário, a adesão do prefeito Acilon Gonçalves e de seu expressivo grupo político do Eusébio e entorno. Tal movimento sinaliza uma expansão de bases que não pode ser ignorada.
Nesse mesmo campo, o PSD, comandado pela reconhecida habilidade do ex-vice-governador Domingos Filho, posiciona-se como peça-chave. Visto como um líder sem rejeição e profundo conhecedor do estado com passos largos no cenário nacional, dificilmente ficará alheio à composição da chapa principal.
Correndo por perto, mas com peso específico, está o ex-senador Eunício Oliveira (MDB) que, apesar da diminuição de seus quadros partidários, já colocou seu nome à disposição para o Senado, valendo-se de seu prestígio e amizade pessoal com o presidente Lula. A este cenário somam-se outros pretendentes, como Chiquinho Feitosa e José Guimarães, adensando a disputa interna.
Um elemento novo e de considerável peso nesta discussão é a força ascendente do interior do estado. Pela primeira vez, a discussão da chapa majoritária parece ser pautada com maior intensidade pelas lideranças interioranas, dado que os votos de Fortaleza se tornaram uma grande incógnita.
O eleitorado da capital tem se mostrado volátil, ao ponto de, na última eleição estadual, ter relegado um dos prefeitos mais bem avaliados de sua história, Roberto Cláudio, a um terceiro lugar na peleja pelo Governo do Estado. Este precedente reforça a tese de que a capacidade de costurar alianças e consolidar apoios nos municípios será mais decisiva do que nunca.
Enquanto a situação se articula, ela observa atentamente os passos da oposição, em especial os do ex-governador Ciro Gomes. Sua recente aproximação com setores do bolsonarismo, materializada na aliança com o Pastor Alcides, pai do deputado André Fernandes, representa uma variável de impacto.
Contudo, a política cearense é pródiga em reviravoltas, e a mais sensível delas reside na dinâmica familiar dos Ferreira Gomes. Conforme declarou a deputada Lia Gomes ao jornal O Povo, os irmãos Cid e Ciro, “saídos do ventre de Dona Maria” José”, lá em Sobral, não dançaram ainda juntos e nem se beijaram, mas já se olharam com caras de saudades e amor fraterno. Essa fresta de reaproximação é um fator imponderável que pode reconfigurar todo o espectro político.
Dessa forma, a definição das chapas rumo a 2026 está longe de ser consolidada. Serão necessários muitos diálogos e “pulos de várias pontes do Ceará”. Aliás, a política como um rio, oferece águas que, por vezes, passam uma única vez, e os líderes que souberem navegar nesta correnteza de interesses e afetos definirão o curso da próxima eleição.