Home Wanderley Barbosa Pressão silenciosa: o preço psicológico de se adaptar demais nas redes sociais

Pressão silenciosa: o preço psicológico de se adaptar demais nas redes sociais

As pessoas sentem-se obrigadas a ajustar, suavizar ou esconder sistematicamente traços da sua personalidade para se adaptarem aos diferentes contextos das suas vidas, desde o digital ao profissional ou familiar

Foto: Viktollio/Shutterstock

Um estudo da Universidade Católica de Lisboa identificou uma pressão social silenciosa, amplificada pelas redes sociais, que está a levar os utilizadores a estados de ansiedade, insegurança e a um fenómeno designado por “cansaço identitário”. A investigação aponta que a busca pela aceitação digital está a gerar uma tensão profunda entre a necessidade de ser autêntico e o desejo de se enquadrar, esvaziando a autenticidade do indivíduo.

De acordo com a pesquisa, as pessoas sentem-se obrigadas a ajustar, suavizar ou esconder sistematicamente traços da sua personalidade para se adaptarem aos diferentes contextos das suas vidas, desde o digital ao profissional ou familiar. Esta pressão não é explícita, mas opera através de padrões implícitos de comportamento, imagem e sucesso que são interiorizados de forma quase automática, criando uma constante vigilância sobre como são percecionados.

Os investigadores referem que vivemos na “era da curadoria do eu”, onde a autorregulação constante para gerir a imagem pública gera uma carga mental significativa. A longo prazo, este esforço pode erodir a espontaneidade e a autenticidade, com impactos emocionais sérios. Este desgaste torna-se mais agudo em momentos de transição, como o regresso das férias ou o início de um novo ciclo, quando a percepção da necessidade de “esconder o feitio” se intensifica.

O estudo salienta que traços de personalidade como a teimosia ou a sensibilidade não são inerentemente bons ou maus; a sua interpretação e a necessidade de os ocultar dependem inteiramente do contexto social. O que num líder é “determinação”, num colaborador pode ser “teimosia”. Este conflito interno entre o “eu real” e o “eu apresentável” está na origem do “cansaço identitário” – uma exaustão que vai além do físico ou mental, sendo um cansaço de si próprio pela performance constante.

Perante este cenário, os especialistas alertam para o risco de normalizar este desgaste, com consequências profundas para a saúde mental coletiva. A solução sugerida passa por uma reflexão consciente sobre estes mecanismos e pela reconexão com os contextos e relações onde as pessoas se sentem verdadeiramente livres para ser quem são, tanto offline como online.

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