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Paróquia de Santo Antônio de Quixeramobim: 270 anos de fé, história e identidade

A Paróquia de Santo Antônio de Quixeramobim não é apenas uma construção antiga. É testemunha silenciosa de guerras, secas, mudanças políticas, transformações sociais e, sobretudo, da força do povo sertanejo

Foto: Augusto Alves/SMC

No coração do Sertão Central do Ceará, a Paróquia de Santo Antônio de Pádua — situada no município de Quixeramobim — celebra em 2025 seus 270 anos de fundação canônica, reafirmando seu papel como símbolo de fé, cultura e memória coletiva de uma região que cresceu ao redor do altar de seu padroeiro.

Origens: da fazenda à fé comunitária

A história da paróquia remonta às primeiras décadas do século XVIII, quando o português Antônio Dias Ferreira, proprietário da Fazenda Boqueirão de Santo Antônio, ergueu por volta de 1730 uma pequena capela de taipa dedicada a Santo Antônio de Pádua, seu santo de devoção.

Na época, as longas distâncias até os centros religiosos mais próximos, como Russas, dificultavam a vida espiritual dos moradores. A capela rapidamente se tornou o ponto de encontro da comunidade nascente.

O marco decisivo ocorreu em 15 de novembro de 1755, quando a então Capela de Santo Antônio foi elevada à categoria de Matriz, e a freguesia foi oficialmente criada, desmembrando-se de Russas. Nascia assim a Paróquia de Santo Antônio de Quixeramobim, uma das mais antigas do Ceará.

Crescimento urbano e papel histórico

Ao redor da igreja matriz formou-se a povoação que, com o tempo, viria a se tornar a atual cidade de Quixeramobim. Em 1789, a localidade foi elevada à categoria de vila com o nome de “Nova Vila do Campo Maior”. A paróquia não foi apenas um espaço de celebrações religiosas, mas também núcleo social, político e cultural — cenário de eventos cívicos, casamentos históricos, decisões comunitárias e práticas tradicionais.

Durante o século XIX e início do XX, a Matriz passou por diversas reformas, acompanhando a expansão da cidade. Originalmente, possuía apenas uma torre. A segunda torre e a atual fachada foram concluídas em 1916, conferindo ao templo o aspecto simétrico e imponente que se vê hoje. A arquitetura apresenta traços neoclássicos, preservando elementos barrocos da construção inicial.

Santo Antônio: padroeiro e símbolo de devoção

A devoção a Santo Antônio de Pádua acompanha Quixeramobim há quase três séculos. O santo — conhecido como “casamenteiro”, pregador e protetor dos pobres — tornou-se não apenas padroeiro religioso, mas também símbolo identitário da cidade.

As tradicionais festas de Santo Antônio, realizadas no mês de junho, movimentam milhares de fiéis e visitantes com novenas, missas, procissões, apresentações culturais e quermesses. A celebração ultrapassa o caráter litúrgico: é um momento de encontro de gerações, fortalecimento de laços comunitários e preservação de costumes sertanejos.

Restaurações e preservação do patrimônio

Reconhecida como um dos principais marcos históricos do município, a Igreja Matriz passou por várias intervenções de conservação. Reformas significativas ocorreram em 2011 e 2019, quando a fachada e os interiores foram restaurados, recuperando cores e detalhes ornamentais originais.

A preservação do templo representa mais que um cuidado estético: significa resguardar a memória viva de Quixeramobim, garantindo que futuras gerações possam testemunhar a fé e a história de seus antepassados.

270 anos: um marco para celebrar

Em 2025, a Paróquia de Santo Antônio comemora 270 anos de fundação, com uma ampla programação religiosa e cultural. O jubileu inclui novenas solenes, missas festivas, procissões pelas ruas históricas, shows religiosos e eventos sociais que mobilizam toda a cidade.

Mais do que uma data comemorativa, os 270 anos representam a continuidade de uma caminhada de fé iniciada por um pequeno grupo de fiéis no sertão do século XVIII e que hoje une milhares de pessoas em torno de um mesmo símbolo espiritual.

Símbolo de resistência e esperança

A Paróquia de Santo Antônio de Quixeramobim não é apenas uma construção antiga. É testemunha silenciosa de guerras, secas, mudanças políticas, transformações sociais e, sobretudo, da força do povo sertanejo.

Em cada parede, em cada imagem e em cada celebração ecoa uma história de fé que ajudou a moldar a identidade de toda uma cidade. Celebrar 270 anos é também afirmar que a tradição e a fé caminham lado a lado com o futuro.

Ficha histórica

  • Fundação da capela: ~1730
  • Elevação a paróquia: 15 de novembro de 1755
  • Padroeiro: Santo Antônio de Pádua
  • Arquitetura atual: traços neoclássicos (1916)
  • Local: Centro de Quixeramobim – CE

Joaquim Pontes Brito
Escritor

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