Home 1 Minuto com Sérgio Machado Quando a urgência esbarra na burocracia do socorro

Quando a urgência esbarra na burocracia do socorro

Debater soluções não fragiliza o SAMU — ao contrário, fortalece. Porque quando a sobrevivência de uma pessoa depende de segundos, cada pergunta a mais precisa valer a pena

Foto: Rafael Nascimento/MS

O Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU 192) é uma das estruturas mais importantes do SUS e responsável por salvar milhares de vidas em todo o Brasil. Mas relatos recentes voltam a expor um dilema que se repete: o tempo da burocracia nem sempre acompanha o tempo da vida.

Em um caso ocorrido recentemente, um homem que mora sozinho passou mal dentro de casa, trancado e sem condições de pedir ajuda. Vizinhos acionaram o SAMU imediatamente. No entanto, o atendimento telefônico se prolongou em uma sequência de perguntas difíceis de serem respondidas por quem não tinha acesso direto à vítima. Enquanto dados eram checados para liberar o envio da ambulância, o Corpo de Bombeiros chegou primeiro, arrombou a porta e prestou o socorro inicial. Quando a equipe do SAMU finalmente compareceu, o pior já havia sido evitado.

A justificativa para tantos questionamentos é conhecida. Os atendentes e médicos reguladores precisam ter certeza do que está acontecendo antes de deslocar uma unidade, especialmente diante do alto número de trotes e da limitação de equipes e veículos. Porém, o desafio está justamente em encontrar o ponto de equilíbrio: proteger o protocolo, sem colocar em risco a urgência.

O episódio revela uma necessidade evidente de modernização e agilidade. Protocolos mais flexíveis para casos de risco comprovado, integração total com o Corpo de Bombeiros e uso de tecnologias simples, como geolocalização e envio de imagens, poderiam evitar atrasos e salvar ainda mais vidas.

Nada disso diminui o valor do SAMU. É um serviço que enfrenta falta de estrutura, grandes distâncias e situações de extremo estresse para garantir que o socorro chegue a quem mais precisa. O que se pede é uma evolução compatível com a demanda. A vida não pode esperar pela burocracia.

Debater soluções não fragiliza o SAMU — ao contrário, fortalece. Porque quando a sobrevivência de uma pessoa depende de segundos, cada pergunta a mais precisa valer a pena.

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