O esquema de desvio no INSS provocou uma crise profunda no sistema sindical brasileiro, especialmente no interior do Nordeste. O impacto foi imediato e expôs fragilidades que já existiam, mas que foram ampliadas de forma acelerada após as investigações. A retirada da autorização automática do desconto em folha atingiu diretamente a base financeira dos sindicatos. Sem essa fonte de receita, muitas entidades entraram em colapso administrativo, com demissões de funcionários, cortes de gastos, paralisação de projetos e perda da capacidade de mobilização. A estrutura sindical, que durante décadas se manteve sólida, revelou-se extremamente dependente desse mecanismo.
Diante dessa fragilidade, prefeitos e gestores municipais passaram a amparar diversas entidades, oferecendo suporte estrutural ou administrativo para garantir sua sobrevivência. Essa relação, que sempre existiu em diferentes níveis, tornou-se mais evidente e, ao mesmo tempo, mais delicada. Embora esse auxílio mantenha alguns sindicatos de portas abertas, reduz sua autonomia, cria dependência e enfraquece a postura crítica das instituições.
No interior do Ceará, os reflexos são claros. Movimentos tradicionais, como o MST, e sindicatos rurais enfrentam queda de participação, dificuldades de organização e um ambiente de desconfiança. Bases que antes reuniam centenas de trabalhadores agora lutam para mobilizar pequenos grupos. Lideranças históricas se recolheram, algumas por desgaste, outras pelo receio de associação com o escândalo.
O silêncio das entidades surpreende. Os sindicatos rurais, justamente os mais afetados pela fraude, sempre foram força fundamental na construção de militância, apoio político e participação ativa em processos eleitorais. São bases decisivas para governos estaduais e federais, especialmente os ligados ao PT. No entanto, diante da maior crise de sua história recente, a reação parece tímida e desarticulada. A ausência de uma posição firme levanta questionamentos importantes sobre a representatividade atual das lideranças e o futuro da categoria.
Há perguntas que não podem ser ignoradas. Onde está a voz que sempre defendeu os trabalhadores rurais? Por que as bancadas federal e estadual do PT, que historicamente tiveram apoio direto dessa base, não assumem protagonismo na defesa e reorganização das entidades? O que falta para que essas instituições retomem sua força política e garantam sua sobrevivência? O cenário é ainda mais preocupante quando se observa que, mesmo enfraquecidas, essas categorias continuam essenciais para o processo eleitoral de 2026.
Se o objetivo é reconstruir a credibilidade, são necessários três movimentos fundamentais. O primeiro é a recomposição da confiança interna, com transparência, auditoria e renovação das lideranças. O segundo é a criação de um novo modelo de financiamento, já que a dependência exclusiva do desconto em folha não retornará. O terceiro é retomar o protagonismo político, ocupando espaços, formulando debates e defendendo os trabalhadores com firmeza e independência.
A fraude do INSS não atingiu apenas a Previdência. Ela feriu a espinha dorsal de uma das maiores forças sociais do país. O futuro dos sindicatos e movimentos rurais dependerá da capacidade de enfrentar essa crise com coragem, seriedade e reinvenção. O silêncio pode explicar o presente, mas não pode definir o futuro. O Nordeste, o Ceará e o Brasil precisam de entidades fortes, representativas e capazes de sustentar a democracia e a participação social. O momento é de reconstrução, e essa reconstrução precisa começar agora.




