Dezembro Verde é o mês nacional de prevenção ao abandono e aos maus tratos contra animais. A campanha, que deveria mobilizar governos, sociedade civil e famílias, chega novamente ao Sertão Central trazendo uma pergunta incômoda: estamos realmente cumprindo esse papel? A realidade mostra que não. Em Quixeramobim, casos de violência, abuso, negligência e abandono continuam acontecendo de forma alarmante, atingindo principalmente cães, gatos, jumentos, burros e cavalos que, historicamente, sofrem nas mãos de seres humanos.
A ausência de políticas públicas eficientes agrava o problema. Faltam campanhas de castração e vacinação, há carência de ações educativas sobre posse responsável, e o poder público ainda não realiza fiscalização contínua capaz de coibir agressões. Animais são deixados à própria sorte, famintos, doentes, machucados, usados até o limite de sua força e descartados quando já não servem mais. Muitos vivem entre o descaso e a brutalidade diária.
Nossa coluna recebeu recentemente uma denúncia que exemplifica essa triste realidade. Um filhote de jumenta teria sido alvo de maus tratos em uma aposta envolvendo dinheiro para ver se o animal beberia cerveja. O vídeo, que teria circulado em grupos de WhatsApp há cerca de seis dias, mostra o filhote sendo puxado à força para um local onde se tornou a “atração principal”. A gravação mostra manipulações, agressões e até pessoas levantando o pequeno animal nos braços como se fosse uma brincadeira. Informações indicam que o caso teria ocorrido no Conjunto Esperança, em Quixeramobim. A denúncia, forte e revoltante, revela a falta de amor, empatia e o instinto brutal presente em muitas atitudes humanas.
Casos como esse não podem continuar impunes. A Lei Brasileira de Crimes Ambientais prevê punições para quem maltrata animais, incluindo detenção e multa. Isso significa que tais práticas não são apenas moralmente condenáveis; são crimes. É dever do poder público apurar as denúncias, identificar os responsáveis e assegurar que haja punição para quem comete atrocidades desse tipo. O Ministério Público, a Delegacia de Proteção Ambiental, as secretarias municipais e demais órgãos competentes precisam agir com rigor, transparência e urgência.
A violência contra animais não é um episódio isolado. É reflexo de uma cultura onde muitos ainda tratam cães e gatos como incômodos descartáveis e animais como jumentos e cavalos como ferramentas sem valor. A falta de políticas públicas eficazes agrava a situação. Não há programas de castração suficientes, poucos incentivos à adoção, e quase nenhuma fiscalização nas ruas ou zonas rurais. Enquanto isso, animais continuam sendo abandonados, passando fome e sofrendo agressões que vão desde espancamentos até exploração em trabalhos exaustivos.
Precisamos provocar as autoridades, cobrar ações concretas e exigir que a lei seja cumprida. É necessário que Quixeramobim tenha um programa permanente de proteção e bem estar animal, com castração contínua, campanhas educativas, centros de acolhimento, atenção veterinária e fiscalização real. A população também precisa participar, denunciar, ajudar, acolher e compreender que cada animal abandonado ou maltratado é vítima de uma falha coletiva.
Dezembro Verde nos lembra que o abandono e a crueldade contra animais não são problemas distantes. Estão aqui, em nossas ruas, em nossas comunidades, diante dos nossos olhos. O caso do filhote de jumenta é apenas um recorte de uma dor muito maior, que atinge milhares de vidas inocentes. Esta denúncia deve servir como alerta e como chamado à responsabilidade. Não podemos seguir normalizando o sofrimento desses seres indefesos.
O Sertão Central, que tanto se orgulha de sua cultura, sua gente e sua história, precisa finalmente refletir sobre a forma como trata os animais que compartilham esse território. Eles sentem dor, medo, fome e abandono. Eles dependem de nós.
Que esse Dezembro Verde seja mais do que uma campanha simbólica. Que seja o início de uma mudança real. Que Quixeramobim investigue, puna, eduque e proteja. Que a sociedade se mobilize. E que o respeito à vida — toda vida — prevaleça.
