O PT vive hoje uma posição de força no Ceará, comandando governo federal, governo estadual e presença forte em prefeituras. Mas é justamente aí que mora o problema.
O partido parece querer tudo ao mesmo tempo, sem dividir espaço. Isso gera incômodo fora e dentro da própria legenda, ainda que poucos queiram admitir publicamente. A articulação com outros partidos está frágil, marcada mais por imposição do que por construção coletiva, e isso cobra um preço político.
Camilo Santana, hoje ministro e principal articulador do PT cearense, poderia se inspirar na frente ampla que Lula montou nacionalmente.
Em Brasília, o PT entendeu que só governaria com pluralidade, diálogo e concessões. Aqui, o movimento é outro, com concentração de poder e pouco espaço para aliados. Esse descompasso começa a afastar partidos que poderiam somar e enfraquece pontes que levaram anos para serem construídas.
E esse desgaste não é só externo.
Dentro do PT, há sinais claros de insatisfação. Luizianne Lins é o exemplo mais emblemático. Em entrevista ao podcast As Cunhãs, ela falou sem rodeios sobre a falta de reconhecimento, a ausência de espaço político e o sentimento de ser invisibilizada, mesmo após décadas de militância. É um sintoma de um partido que escuta pouco suas próprias lideranças históricas.
Nos bastidores, Luizianne já conversa com gente da Rede e do PSOL. Isso não acontece por acaso. A relação dela com Camilo nunca foi das melhores, e a falta de articulação entre os dois ajudou a empurrar essa ruptura.
O PT pode até estar forte institucionalmente, mas está frágil politicamente em termos de convivência interna e alianças. O risco, olhando pra frente, é o PT se isolar. Governar tudo sem dividir espaço pode funcionar por um tempo, mas cria ressentimentos, rachas e candidaturas alternativas.
No Ceará, isso pode significar perda de apoio, fragmentação da base e crescimento de campos à esquerda e ao centro que hoje se sentem excluídos. A política, como se sabe por aqui, não gosta de soberba. Quem não aprende a dividir, cedo ou tarde, acaba pagando a conta.




