O número de cirurgias para retirada de implantes de silicone quase dobrou no Brasil nos últimos oito anos, passando de 18,4 mil em 2016 para 42,2 mil em 2024, segundo dados da International Society of Aesthetic Plastic Surgery (ISAPS). A alta é atribuída a uma combinação de fatores: relatos de complicações, maior atenção médica aos riscos e mudanças nas preferências estéticas. As informações são do g1.
Casos como o da catarinense Aline Hubner, de 41 anos, chamam atenção para possíveis problemas associados aos implantes. Em 2016, ela colocou próteses mamárias e, seis anos depois, passou a apresentar uma série de sintomas, incluindo enxaquecas, manchas na pele e infecções recorrentes. Em 2022, exames revelaram o extravasamento de cerca de oito centímetros de silicone, que se espalhou por diferentes regiões do corpo. Diagnosticada com síndrome ASIA, uma condição autoimune potencialmente associada a adjuvantes como o silicone, Aline precisou passar por uma cirurgia de 13 horas para remover as próteses. Segundo ela, os médicos afirmaram que, se o explante não fosse realizado, sua vida estaria em risco.
Alertas internacionais e avanços na regulamentação
Em 2021, a FDA (agência reguladora dos Estados Unidos) passou a exigir que fabricantes incluam um aviso destacado nas bulas, chamado boxed warning, informando que:
- os implantes mamários não são dispositivos para a vida toda;
- quanto maior o tempo no corpo, maiores os riscos de complicações;
- algumas pacientes precisarão de novas cirurgias;
- há possibilidade de associação com sintomas sistêmicos e com o linfoma anaplásico de grandes células (BIA-ALCL).
Além disso, agora é obrigatório que a paciente assine um checklist de decisão informada, confirmando que foi orientada sobre riscos, possíveis complicações e necessidade de acompanhamento regular por exames de imagem, como ressonância magnética ou ultrassom.
Doenças relacionadas ao silicone
Embora os implantes sejam considerados seguros para a maioria das mulheres, especialistas destacam que o silicone não é totalmente inerte e pode causar reações inflamatórias. Entre as principais condições investigadas estão:
- Doença do silicone: hipótese de intoxicação crônica causada pelo extravasamento gradual do gel, com sintomas como fadiga, dor de cabeça, ansiedade, alterações gastrointestinais e problemas de memória.
- Síndrome ASIA: reação autoimune em pessoas geneticamente predispostas, com sinais como dores articulares, urticária, queda de cabelo, boca e olhos secos e febre baixa persistente.
Apesar disso, médicos afirmam que ainda faltam estudos robustos que comprovem relação direta entre implantes e doenças sistêmicas. A maioria dos diagnósticos é feita por exclusão, após descartar outras causas.
Sintomas que exigem atenção
Especialistas recomendam procurar acompanhamento médico se surgirem sinais como:
- alterações no formato ou volume da mama;
- dor, sensibilidade ou inchaço ao redor do implante;
- nódulos endurecidos na região do tórax ou axilas;
- vermelhidão, queimação e alterações na pele;
- sintomas sistêmicos persistentes, como fadiga intensa e dores articulares.
Direito à informação e responsabilidades legais
Segundo a advogada Rita Soares, especialista em direito da saúde, fabricantes têm responsabilidade sobre os implantes, principalmente em casos de ruptura. No entanto, muitas empresas oferecem apenas a troca das próteses, não cobrindo custos cirúrgicos adicionais. Ela recomenda que pacientes guardem todos os prontuários e notifiquem a Anvisa sobre complicações para evitar a subnotificação de casos.
Médicos reforçam que os implantes seguem sendo indicados com segurança, sobretudo em casos de reconstrução mamária, mas defendem que a decisão precisa ser compartilhada entre paciente e profissional, com total transparência sobre riscos e benefícios.