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Sustentabilidade em retórica: quando empresas que destroem o planeta se pintam de salvadoras

As grandes corporações usam a COP30 como vitrine e dizem que apoiam a sustentabilidade. Mas quando se olha para os números, aparecem denúncias de desastres ambientais, emissões gigantes de gases de efeito estufa, desmatamento e até lobby para evitar regulações mais rigorosas

Foto: Bloomberg via Getty Images

A mais recente investigação do Intercept Brasil denuncia algo que a gente já desconfiava. Empresas com histórico pesado de impactos ambientais, como Vale e JBS, estão entre as maiores patrocinadoras da cobertura jornalística da COP30 no Brasil.

Se essas companhias patrocinam a mídia e o evento, elas estão de fato ajudando a salvar o planeta ou apenas limpando a imagem – o chamado greenwashing – enquanto seguem expandindo seus negócios que ameaçam o meio ambiente?

As grandes corporações usam a COP30 como vitrine e dizem que apoiam a sustentabilidade. Mas quando se olha para os números, aparecem denúncias de desastres ambientais, emissões gigantes de gases de efeito estufa, desmatamento e até lobby para evitar regulações mais rigorosas.

É o velho “jogo de cena”. Um discurso bonito, com imagens bem produzidas, mas os alicerces reais da questão, que envolve regulação, fiscalização consistente e punições condizentes, continuam fracos.

Aqui no Ceará, embora o impacto direto dessas empresas possa não estar tão visível como em Minas ou Pará, o recado também está dado.

Nosso Estado tem biomas, territórios vulneráveis, comunidades tradicionais, litoral e interior que sofrem com licenciamento ambiental, exploração de recursos e risco de impactos. Ou vocês já esqueceram do data center de R$ 50 bilhões do TikTok em Caucaia?

A presença de grandes empresas que patrocinam esse tipo de discurso enfraquece as vozes locais que defendem a preservação, a fiscalização e a participação da comunidade.

E essa hipocrisia alimenta desconfiança. Quando a população vê que a empresa envolvida em desastre ambiental patrocina cobertura da COP, o que fica é: “olha só, é tudo teatro mesmo”.

Isso corrói a credibilidade da agenda ambiental. E quando a gente precisa mobilizar gente no Ceará para cuidar dos rios, do litoral, da terra, do agro sustentável, esse descrédito pesa. O povo quer ver ação, não só a marca da empresa estampada em outdoor.

Para sair desse beco, a agenda da sustentabilidade precisa de três coisas claras: registro público transparente dos patrocínios, imprensa livre para fazer as perguntas difíceis, e políticas públicas que realmente punam quem destrói, não só quem aponta. Se não for assim, a COP30 vira palco e a preservação do nosso planeta apenas um discurso vazio.

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