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O futuro do rádio está ameaçado

Quem frequentou o ensino fundamental e tem uma memória boa deve lembrar que quando o Brasil deixou de ser uma monarquia e adotou o modelo de regime republicano, a notícia da proclamação da República demorou muito tempo para chegar ao restante do país.

Em Mato Grosso do Sul, por exemplo, que não fica tão distante do Rio de Janeiro, foram precisos mais de 20 dias para que o povo deixasse de servir a D. Pedro II. Outros acontecimentos de relevância nacional, como a Independência, a Guerra do Paraguai e o massacre de Canudos, demoraram meses para alcançar povos que habitavam algumas das regiões mais distantes do país.

E isso acontecia porque o Brasil, que é um país de dimensões continentais, não contava com um veículo de comunicação que permitisse a integração do território e a rápida difusão da informação, o que só veio a mudar com o surgimento das rádios AM, que eram capazes de alcançar, em tempo real, as mais longas distâncias de norte a sul do país.

Mas agora, esse importante veículo de comunicação e integração nacional está correndo o maior risco da sua história. E digo isso porque desde 2013 o governo federal vem incentivando a migração das rádios AM para FM, com o pretexto de reduzir gastos de manutenção e elevar a qualidade das transmissões.

O problema é que as rádios FM possuem uma frequência incapaz de ultrapassar obstáculos físicos e naturais, o que reduz muito o alcance do seu sinal e prejudica quem mora no interior do Brasil. Por outro lado, isso não acontece com as rádios AM, que têm uma frequência que pode alcançar milhares de quilômetros, ultrapassando, até mesmo, as fronteiras do país.

E o pior disso tudo é que muitas rádios AM que investiram bastante dinheiro ao escolher migrar para FM, estão simplesmente quebrando porque perderam ouvintes e sem ouvintes não há anunciantes. Por isso, nesse momento em que vários países do mundo caminham no sentido de desligar o sinal FM, a medida mais prudente seria manter o sinal AM e depois torná-lo digital, como está sendo feito com a TV.

Mas na contramão do mundo, o Brasil decide se arriscar e condenar à extinção de um dos seus principais veículos de informação e integração, desprezando o fato de que mais de 90% das suas cidades têm menos de 100 mil habitantes, e nesses lugares, o rádio ainda é e continuará sendo um dos mais importantes instrumentos de comunicação.

1 Minuto com Sérgio Machado

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