Para o líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), o ex-deputado cassado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) atua no governo do presidente Michel Temer mesmo estando dentro da cadeia desde setembro de 2016. Após almoço com o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Moreira Franco, Renan sugeriu que Temer está sendo chantageado por Cunha e apontou o deputado Carlos Marun (PMDB-MS), presidente da Comissão Especial da Reforma da Previdência, de ser o porta-voz do ex-presidente da Câmara no Palácio do Planalto.
Renan demonstrou irritação com as nomeações do deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR) como novo ministro da Justiça, de André Moura (PSC-SE) como líder do governo no Congresso, e de Aguinaldo Ribeiro Ribeiro (PP-PB) para a liderança do governo na Câmara. Os três atuaram como aliados de Cunha na Câmara. O alagoano afirmou, ainda, que o governo é alvo de disputa entre o PSDB e o grupo do ex-deputado preso.
O ex-presidente do Senado insinuou também que Temer não faz a leitura correta do atual cenário. “Os últimos sinais emitidos pelo governo com as nomeações mostram que há uma disputa entre o PSDB e o núcleo da Câmara ligado a Eduardo Cunha pelo comando do governo. Os sinais são, de um lado, o fortalecimento do PSDB, que é legítimo porque faz uma sustentação importante no governo, e o fortalecimento do grupo originário da Câmara ligado a Cunha”, declarou o senador.
Segundo Calheiros, Cunha trabalha para emplacar o subchefe de Assuntos Jurídicos da Casa Civil, Gustavo Rocha, que foi seu advogado e é seu amigo pessoal, para o comando da pasta, no lugar do ministro Eliseu Padilha, que estava licenciado por questões de saúde. O ministro confirmou ontem a volta ao trabalho.
“Eu disse ao Moreira: fala com o Padilha para voltar imediatamente porque senão o Eduardo Cunha senta lá na cadeira dele o Gustavo Rocha. O Padilha tem que voltar logo, já está sarado”, relatou.
As críticas de Renan estão relacionadas ao movimento da bancada do PMDB na Câmara. Marun e outros três deputados peemedebistas assinaram carta pedindo a saída de Romero Jucá e outros acusados na Lava Jato do comando partidário. Jucá é o atual presidente da legenda.
De acordo com o líder do PMDB no Senado, o avanço do grupo de Cunha ocorreu após o encontro entre Marun e o ex-deputado na prisão, em Curitiba.
“Depois de avançar no governo, essa gente vai avançar sobre o partido. Essa carta do Marun veio depois da conversa que ele teve lá com o Cunha em Curitiba e agora age como seu porta-voz. Isso é tão óbvio! Imagina, o PMDB que tem um papel histórico, ser comandado pelo Marun? Nessa disputa entre o PSDB e o PMDB do Eduardo Cunha pelo comando do governo, nós somos radicalmente a favor do PSDB”, disse o senador.
Marun alega que visitou Cunha apenas por solidariedade. “O senador está vendo fantasmas. Eu fui visitar Eduardo Cunha, realmente, numa visita solidária, porque eu posso entrar num presídio e sair, coisa que outras pessoas talvez não consigam fazer. Eu não tenho medo de cara feia. Se ele é tão apaixonado pelo PSDB, ele que vá para o PSDB ver se aceitam ele lá”, declarou o deputado.
Repórter Ceará – Congresso em Foco