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O patrimonialismo está excluindo a população

Em entrevista concedida ao jornal Valor Econômico, o economista Naercio Menezes Filho, coordenador do Centro de Políticas Públicas do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper), falou sobre o atual momento de crise brasileira, citando fatores econômicos e políticos. Com o título “O patrimonialismo está excluindo a população”, acompanhe o conteúdo da entrevista:

A combinação histórica de instituições políticas que beneficiam a elite em detrimento da população; a enorme descrença da sociedade em um sistema que repetidamente nega oportunidades de desenvolvimento aos mais pobres; a falta de acolhimento e o desincentivo à criança na escola; e o abandono dos jovens ao aprendizado do crime. Esses são alguns dos fatores que ajudam a explicar a raiz dos erros que levaram o país à profunda crise econômica, política e institucional em que se encontra, na visão do economista Naercio Menezes Filho, coordenador do Centro de Políticas Públicas do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper).

“Que país é esse? Você tem milhares de jovens nas cadeias, entupidas de gente aprendendo a roubar cada vez mais. Corrupção generalizada entre os políticos, crise econômica profunda”, questiona Naercio, que tem dedicado uma série de artigos a tentar mapear os caminhos que trouxeram o país ao preocupante quadro atual. Ele cita a obra dos acadêmicos americanos Daron Acemoglu e James Robinson, “Why nations fail” (Por que as nações fracassam), para tentar explicar a resistência da desigualdade social no Brasil que, para ele, está no centro da causa de grande parte dos problemas.

“O brasileiro não confia no outro. E parte disso vem desse processo de grande concentração de renda, de ativos, nas mãos de poucas pessoas. E de poucas oportunidades para a grande maioria da população”, afirma Naercio. “Existem as instituições políticas extrativistas, que existem para preservar o poder econômico e político nas mãos de uma elite. E tudo isso é muito difícil de ser mudado.”

O “momento crucial de virada”, que Acemoglu e Robinson identificam na história de vários países, como Inglaterra e a França, ocorrerá para o Brasil quando se priorizar educação e proteção dos jovens e o crescimento econômico inclusivo – em que a riqueza beneficia todas as camadas da população – tanto por governantes, quanto por economistas. E, além disso, conseguir acabar com o patrimonialismo e a corrupção generalizada que ocorre em vários segmentos da sociedade. Uma chance, prevê Naercio, são as eleições de 2018, em que propostas sociais concretas, para saúde e educação, precisarão ser apresentadas. “Tem que colocar a questão social junto com a fiscal, resolver as duas coisas. E não tratar a educação, a política social como um aspecto secundário”, afirma. “Não vamos aguentar mais 30 anos nesse rame-rame, crescimento de produtividade baixíssimo, de violência, pobreza. Se continuar assim, as pessoas vão desistir do Brasil”.

Segundo o economista, a reforma da Previdência é essencial para o país, já que, sem ela, “os gastos ficarão inviáveis”. Naercio ainda afirma que, na proposta, existe um componente equitativo: “A exigência de idade mínima para aposentadoria está afetando pessoas que atualmente se aposentam por tempo de contribuição, que em geral são as mais escolarizadas e têm condição de trabalhar. E é óbvio que há problemas quando são alteradas regras do BPC, a aposentadoria rural. Não precisava ter feito isso”.

Repórter Ceará – Valor Econômico

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