Home Editorial Editorial: Senador Pompeu ganhará mais que um patrimônio histórico

Editorial: Senador Pompeu ganhará mais que um patrimônio histórico

Tombamento. Substantivo masculino. Ato ou efeito de tombar ou guardar alguma coisa em um arquivo público. Para o município de Senador Pompeu, no Sertão Central do Ceará, essa palavra tem significado, nos últimos dias, guardar memórias dos que passaram por um dos acontecimentos mais emblemáticos do Estado: A seca de 1932 e os campos de concentração.

Após tempos de trabalho, no próximo dia 20 de julho acontecerá a cerimônia de assinatura do tombamento, em nível municipal, do conjunto arquitetônico formado por 12 casarões, três casas de pólvora, um cemitério e uma barragem (a do Açude Patu), sendo reconhecidos como campo de concentração, que foram utilizados para impedir a chegada dos flagelados da seca em Fortaleza.

Aqui, uma crítica: A Prefeitura de Senador Pompeu, em ato de autopromoção, esqueceu de mencionar o Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) firmado junto com o Ministério Público do Ceará (MPCE), que veio a culminar na ação respeitosa comentada nestas linhas. Em 2017, o órgão havia realizado inquérito civil público e um relatório técnico, sendo concluído que o tombamento da construção é benéfico para a defesa da cultura e da história cearenses. Isso serve de atenção, inclusive, para outros municípios da região, como Quixeramobim e Quixadá, para a valorização de seus patrimônios históricos.

Voltando ao assunto, com o tombamento que, sozinho, já carrega grande valor, muitos outros benefícios serão angariados pela cidade. Tombar um prédio tão importante fará com que o número de turistas na cidade aumente. Os olhos curiosos de muitos serão atraídos pelo patrimônio e diversos profissionais, como historiadores e arquitetos, poderão vir, até de outros países, para conhecer o único campo de concentração brasileiro.

A vinda do público acarretará a ocupação de hotéis e pousadas, o mercado local será movimentado e a economia esquentará. Ou seja, o tombamento vai além do aspecto histórico-cultural e se embrenha na dinâmica econômica do município.

No mais, os campos de concentração, separados pelo Ceará de forma estratégica, eram utilizados para conter aqueles que viam na Capital cearense uma fuga para a seca. Após apreendidos os retirantes, eles eram levados para o local e alguns eram utilizados como mão de obra.

O historiador e advogado Valdecy Alves, avalia que, na cidade aqui tratada, morreram cerca de 12 mil pessoas, mais da metade dos concentrados, sendo o campo de concentração que “morreu mais gente na história das secas.”

No final, a história, como ente construtor que guarda memórias, ganhará espaço no cenário local e no Brasil, além do município, que conseguirá ainda mais recursos oriundos de uma ação respeitosa. Este será o primeiro campo de concentração a ser tombado no Estado, de um total de sete. Todo o processo mostra que os acontecimentos, mesmo tristes, precisam ser contados. A população merece conhecer os fatos que forjaram os sertões de Senador Pompeu.

Editorial do Repórter Ceará – Foto: Gustavo Gomes/EBC

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