A política é um campo minado. Com o trajeto rumo a um cargo público cheio de pequenas bombas armadas, candidatos e candidatas se tornam extremamente maleáveis, evitando polêmicas e pontos críticos que possam mexer de forma negativa com a opinião pública e afetar suas campanhas. Mas, se descolando da política ideológica, a falta de ética de candidatos e seus apoiadores durante a disputa mostra o quão fundo pode ser o poço e o quão suja deve ser a água que os postulantes estão dispostos a afundar para derrubar seus opositores.
No decorrer da campanha eleitoral, as ofensas de cunho pessoal e xingamentos substituem os planos de governo e resta apenas a exposição exacerbadamente desnecessária da vida do concorrente para desestruturar sua campanha e manchar sua imagem perante à sociedade. Dessa forma, o opositor busca as mesmas armas e a campanha se torna um cenário que se distancia de seu real propósito: mostrar aquele que é melhor preparado para representar a população.
Nas Eleições Municipais de 2024, mesmo que a campanha não tenha começado – em seu período oficial -, a exposição já acontece. Geralmente protagonizada por apoiadores que possuem certo destaque nas redes sociais, a briga expõe questões pessoais que em nada se relacionam com o pleito. São assuntos familiares que envolvem o político ou até mesmo questões de familiares que nada tem a ver com a figura, mas que podem manchar sua imagem. Nesse tempo, os próprios candidatos se afastam dessa discussão e deixam a ‘baixaria’ para quem quer se expor em prol da figura política às custas de alguns trocados.
Ao iniciar a campanha, como muito aconteceu em eleições anteriores, essa guerra se intensifica, já que agora são dois palanques: as redes sociais e os comícios. Nesse segundo é comum ver demonstrações, até que fervorosas, de impor adjetivos negativos ao concorrente. Ladrão e mentiroso são os básicos. Muitas vezes são acusações sem provas, apenas para induzir o eleitor que o opositor é um péssimo político e alguém em quem não se deve confiar.
Enquanto tudo isso acontece, os planos de governo dos candidatos ficam esquecidos na boca, nas redes sociais e na plataforma da Justiça Eleitoral. Aqueles interessados em buscar qual candidato possui as melhores propostas, buscam os dados nos sites eleitorais. Aqueles que não, ficam apenas com os shows de horrores gratuitos que se tornam as campanhas. Há também aqueles sem acesso a tais meios, em que a única forma de conhecer os candidatos é na propaganda ‘boca a boca’ e nos ‘showmícios’.
Essas campanhas antiéticas afastam o eleitor, que busca melhorias na saúde, na educação, na segurança, na assistência social etc. São falas e atitudes que fazem com que a população desacredite da política como um espaço sério de debates que busca o melhor para o sociedade. O povo passa a ver todos os políticos como se fossem as mesmas figuras, se desinteressam pela luta de seus direitos e perdem o ‘gosto’ pelo voto.
A boa política tem sido substituída e, para a população, se mostra uma política com um debate que beira à desonestidade e o nível intelectual das páginas de fofocas. Mais do que isso, só demonstra o quanto os candidatos possuem planos de governo vazios e são despreparados para assumirem cargos de representação. É o fundo do poço, onde não há dignidade, apenas a busca incansável e obsessiva pelo poder.