Neste período (de agosto a dezembro), a época de estiagem, onde chuva quase não se registra, ocorre a incidência de incêndios no Ceará por conta de condições favoráveis, como a baixa umidade e alta temperatura do solo e do ar, além da vegetação seca e ventos fortes. Contudo, se engana quem pensa que as chamas são somente naturais. O homem também tem culpa na história.
Vamos aos fatos: Para “limpar o terreno”, opta-se por queimar a vegetação no local, a fim de realizar plantios. Isso ocorre com maior frequência de outubro a dezembro. A prática é barata e, por isso, amplamente utilizada. Então, unindo as ocorrências naturais com as antrópicas, o resultado é um nevoeiro de fumaça que cobre o território cearense.
Somente em Quixeramobim, cidade Centro do Estado e Coração do Ceará, foram registrados mais de três incêndios florestais, da última quinta-feira, 10, até esta quinta-feira, 17, incluindo o que ocorre na Serrinha de Santa Maria, há 24 km da sede urbana do município, há cinco dias. Soma-se a isso, o fato de que a maioria dos registros de queimadas é da zona rural, o que dificulta o acesso do Corpo de Bombeiros ao local para combater as chamas.
Eis alguns casos: No dia 24 de agosto, um incêndio atingiu a zona rural de Iracema, na região do Jaguaribe. No local, além da vegetação queimada, duas cobras foram encontradas carbonizadas. 200 hectares de vegetação foram atingidos no Distrito de Uruquê, em Quixeramobim, no dia 07 de setembro. Em Limoeiro do Norte, no Vale do Jaguaribe, moradores tiveram que ser retirados de suas residências por conta da fumaça de um incêndio no último sábado, 12. No município do Cedro, no Centro-Sul, chamas tomaram grandes proporções e atingiram o Distrito de Lagêdo, no último dia 15.
As queimadas são benéficas até determinado ponto, já que algumas sementes da caatinga e do cerrado só germinam após passarem por um incêndio. Mas, em ritmo desenfreado e se executadas várias vezes, perdem sua utilidade, causando a perda de nutrientes, a degradação do solo, a morte de animais e plantas – afetando a biodiversidade da fauna e da flora – , facilitam a erosão, prejudicam o ecossistema local, afetam a qualidade do ar e intensificam o processo de desertificação, principalmente no semiárido cearense, em razão do solo raso da região, que possui em média 50 centímetros. Assim, não é impossível almejar um futuro triste para os cearenses que tiram seu sustento da terra.
Quem incendeia florestas vai de encontro com o artigo 41 da Lei de Crimes Ambientais (9.605/98), podendo ficar até cinco anos preso e, ainda, sujeito à multa. Por isso, é preciso que os órgãos de segurança e o Poder Público fiquem atentos e investiguem se os incêndios são criminosos ou não, a fim de que sejam tomadas todas as medidas cabíveis.
Ou deixamos que as chamas se formem naturalmente e, quando estiverem fora de controle, agimos para conter, ou morreremos, em um futuro próximo, pelas nossas próprias mãos.
A escolha é da sociedade.
Editorial do Repórter Ceará (Foto: Reprodução/TV Verdes Mares)