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Mudanças climáticas estão acelerando a transmissão de doenças, alerta especialista

Outro grupo de doenças que também pode aumentar a incidência devido às mudanças climáticas são as doenças respiratórias e cardiovasculares

Foto: Freepik

Aumento das temperaturas, chuvas bem acima da média, enchentes, secas, dentre outros desastres ambientais acenderam o sinal vermelho em relação aos impactos das mudanças climáticas sobre a saúde da população.

Já há alguns anos, a comunidade científica internacional vem trabalhando em torno do conceito de “saúde única”, que estabelece a indissociabilidade entre saúde humana e animal e o meio ambiente. Esses três elos, afirmam os especialistas, são diretamente impactados pelas mudanças climáticas.

Razão pela qual, eles apontam que as questões relacionadas ao clima já são um fator de aumento da transmissão de doenças no Brasil e no mundo, tendência que tende a se acentuar à medida que o planeta ficar mais quente e mais desastres ambientais acontecerem.

Diante desse cenário, explica o médico sanitarista e gestor em saúde, Álvaro Madeira Neto, o impacto negativo principal se dá por meio de doenças mediadas por vetores, em geral mosquitos e outros insetos, que dependem de ambientes quentes e úmidos.

“As mudanças climáticas, especialmente o aumento das temperaturas, influenciam significativamente a saúde pública, promovendo a incidência de várias doenças. Entre elas, podemos falar das doenças transmitidas por vetores, como a Dengue, Zica, Chikungunya e Malária. Tanto que a gente observa, nos últimos meses, um aumento da incidência, na comparação com igual período de anos anteriores, por exemplo da Dengue. Isso foi muito perceptível no Brasil, o que tende a aumentar por conta da variação climática”, avalia.

Maior incidência de doenças respiratórias e cardiovasculares

Ainda segundo Madeira Neto, outro grupo de doenças que também pode aumentar a incidência devido às mudanças climáticas são as doenças respiratórias e cardiovasculares.

“As ondas de calor aumentam a morbidade e mortalidade dessas doenças. Estima-se que, na Europa, a onda de calor 2023 tenha causado aproximadamente 70 mil mortes, principalmente em idosos com doenças pré-existentes”, exemplifica.

Além dessas enfermidades, ele acrescenta que existem também os casos de doenças de origem alimentar e hídrica. “As altas temperaturas podem fazer com que haja uma elevação na incidência de doenças gastrointestinais causadas por agentes patógenos como a salmonela, devido a deterioração mais rápida dos alimentos e a contaminação da água. Existem estudos que indicam que a incidência de infecções por salmonela pode aumentar entre 5% e 10% para cada grau celsius de aumento de temperatura no ambiente. Portanto, é fundamental que as autoridades tenham um olhar muito especial em relação às mudanças climáticas e seus efeitos sobre a saúde humana”, alerta.

Crescimento de doenças zoonóticas

Ao mesmo tempo, Madeira Neto chama a atenção para os aumentos exponenciais de novos episódios de doenças zoonóticas, causadas por patógenos que antes só circulavam entre animais, muitos silvestres, mas que agora foram transmitidos para as pessoas.

De acordo com ele, a mudança de uso e cobertura do solo, como a expansão agrícola, o desmatamento e a urbanização desordenados, é apontada, nesse caso, como a principal causa da emergência destas zoonoses virais, pois levam a um contato mais próximo entre humanos e animais, facilitando a transmissão desses patógenos.

“Essas doenças representam riscos significativos, devido à falta de imunidade prévia na população humana, elevando o potencial de rápida transmissão e alta mortalidade”, adverte.

Como os desastres ambientais levam ao crescimento das doenças gastrointestinais e de pele

Além do aumento do calor, Madeira Neto lembra dos desastres ambientais, como as enchentes recentes no Estado do Rio Grande do Sul e chuvas bem acima da média registradas no Ceará, que elevaram não só o volume de água em circulação, que muitas vezes ficam paradas ou se misturam com o esgotamento sanitário, e outras formas de contaminação, gerando ainda o acúmulo de lama, piorando os quadros de contágio da população.

“As enchentes e águas paradas criam um ambiente propício para a proliferação de vetores de doenças e aumentam a exposição das pessoas a patógenos devido à contaminação da água. A contaminação da água por resíduos sanitários, por exemplo, aumenta o risco de doenças gastrointestinais como a diarreia e Hepatite A”, atenta.

Nesse sentido, ele recorda de uma advertência que a Organização Mundial da Saúde (OMS) fez, ainda em 2020, de que mais de 2,2 milhões de mortes anuais são atribuídas a complicações por conta da diarreia, muitas das quais são associadas à falta de acesso à água potável e saneamento básico.

“O acúmulo de lama e detritos após enchentes também facilita a propagação de infecções de pele, além das gastrointestinais, agravando ainda mais as condições de saúde das populações afetadas”, sinaliza.

Negacionismo pode deteriorar a implementação de políticas de mitigação

Para além dos impactos negativos sobre a saúde das pessoas, Madeira Neto lamenta que a sociedade ainda tenha de lidar com o negacionismo de alguns acerca das mudanças climáticas.

“Esse negacionismo tem um impacto profundo na saúde, ao atrasar a implementação de políticas e ações necessárias para mitigar os efeitos adversos. A falta do reconhecimento e resposta adequados a evidências cientificas impedem a adoção de medidas preventivas como o fortalecimento das infraestruturas de saúde, o planejamento urbano sustentável e a educação pública sobre os riscos associados. Isso resulta em uma maior vulnerabilidade das populações às doenças relacionadas ao clima, aumento de mortalidade, morbidade e maior pressão sobre sistemas de saúde já tão sobrecarregados”, argumenta.

Por esse motivo, expõe, para o enfrentamento dos desafios oriundos das mudanças climáticas, é essencial fomentar a educação e a conscientização da comunidade sobre os riscos das mudanças climáticas e a prática da prevenção. “A colaboração de todos os setores da sociedade é fundamental na promoção do bem-estar, combatendo o negacionismo”, destaca.

Ademais, ele acrescenta que os gestores em saúde devem adotar uma mudança em diversas direções, incluindo a implementação de sistemas de monitoramento, avaliação e alerta precoce para doenças climáticas sensíveis.

“A promoção de uma infraestrutura de saúde resiliente e sustentável e a integração de estratégias de mitigação climática nos planos de saúde pública também são cruciais”, conclui.

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