A análise do cenário político cearense nas eleições de 2024 evidencia uma tendência dos candidatos a priorizarem o debate sobre segurança pública em detrimento de questões de saúde, mesmo quando esta é uma necessidade básica da população. Este enfoque está relacionado a diversos fatores que moldam o discurso político e as estratégias de campanha no Ceará.
A questão da segurança pública é mais visível aos olhos dos eleitores, especialmente nas grandes cidades, onde a violência urbana atinge níveis alarmantes. Os candidatos tendem a abordar questões que são percebidas como mais urgentes e que geram maior repercussão na mídia, acreditando que isso vai garantir maior apoio popular. Por ser uma pauta de impacto direto e emocional, a segurança pública acaba se sobrepondo às demais.
No Ceará, 48 dos 184 municípios não possuem nenhum tipo de serviço particular de saúde, e 717 mil cearenses dependem exclusivamente do SUS, de acordo com o Cadastro Nacional de Estabelecimento de Saúde (CNES). Apesar de sua relevância, a complexidade dos problemas de saúde e suas soluções a longo prazo tornam esses temas menos atraentes para a agenda imediata dos candidatos.
A abordagem segmentada da segurança permite aos candidatos promoverem soluções aparentes e palpáveis, como o aumento do policiamento ostensivo, que geram a percepção de ação concreta. Por outro lado, as melhorias no sistema de saúde, que incluem o fortalecimento do SUS e a ampliação de serviços médicos, demandam políticas de médio a longo prazo, com resultados menos visíveis de imediato.
Nosso desafio, como eleitores e sociedade civil cearense, é cobrar dos candidatos um debate mais equilibrado que reconheça a importância da saúde como um direito fundamental. Precisamos pressionar por propostas que visem a melhoria do acesso à saúde, construindo um cenário onde o desenvolvimento humano seja colocado no centro das políticas públicas.
