Os Caolhos

A Lei da Ficha Limpa foi amplamente explorada na televisão, nas redes sociais, nos discursos políticos e até nos famosos "santinhos" de campanha. Muitas vezes, serviu não apenas como selo de integridade, mas também como arma para insultar e desmoralizar adversários com pendências na Justiça

Foto: Antônio Cruz/Agência Brasil

A Lei da Ficha Limpa (Lei Complementar nº 135) foi sancionada em 4 de junho de 2010 pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Criada para moralizar a política, alterou a Lei de Inelegibilidade (Lei Complementar nº 64/1990), ampliando os casos de inelegibilidade e impedindo a candidatura de políticos condenados por órgãos colegiados da Justiça.

Pois bem. Durante todos esses anos, a Lei da Ficha Limpa foi amplamente explorada na televisão, nas redes sociais, nos discursos políticos e até nos famosos “santinhos” de campanha. Muitas vezes, serviu não apenas como selo de integridade, mas também como arma para insultar e desmoralizar adversários com pendências na Justiça.

“Sou Ficha Limpa!”, anunciava orgulhoso o candidato na TV. Movido pela curiosidade, resolvi verificar a ficha de muitos desses senhores. De fato, estavam “limpas”, mas havia um detalhe curioso: a maioria jamais havia assumido qualquer cargo público, nem sequer gerenciado uma bodega na esquina de casa.

Se houvesse sujeira, seria um rastro genérico de um passado inexistente. Ainda assim, os eleitores aplaudiam do outro lado da rua, celebrando a suposta pureza dos novatos. Mas eis que, agora, muitos dos eleitos por essa onda querem mexer ou até revogar de vez essa lei. Por quê? Porque sujaram suas fichas na primeira oportunidade.

E os eleitores, que tanto defendiam a Lei da Ficha Limpa? Farão de conta que tudo não passou de mera “narrativa”? O termo utilizado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, agora lhe serve bem, pois ele próprio deseja uma “borracha” para apagar os rastros deixados pelos caminhos que percorreu.

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