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Curta-metragem e projeto educacional alertam para o racismo no atendimento médico

Diagnóstico tardio, erros médicos e dificuldade de acesso a exames são algumas das barreiras enfrentadas por pessoas negras na assistência médica

Foto: Imagens/TV Brasil

Diagnóstico tardio, erros médicos e dificuldade de acesso a exames são algumas das barreiras enfrentadas por pessoas negras na assistência médica. Com o objetivo de chamar atenção para essa realidade, o curta-metragem Corpo Negro foi lançado na terça-feira, 1°, com uma exibição seguida de uma mesa-redonda no Cinema Estação do Shopping da Gávea, na zona sul do Rio de Janeiro. O filme, que também está disponível online, retrata a jornada de um homem negro lidando com a indiferença de profissionais de saúde.

Dirigido por Nany Oliveira, o curta integra o projeto Mediversidade, iniciativa dos institutos sociais de dois grupos empresariais do setor educacional: o Instituto de Educação Médica (Idomed) e o Instituto Yduqs. O projeto busca promover um ensino mais diverso e propõe mudanças em instituições vinculadas aos grupos, como Estácio, Ibmec, Damásio, Faculdade de Medicina de Açailândia (Fameac) e Faculdade Pan Amazônica (Fapan).

Estudos apontam desigualdade racial na saúde

Diversas pesquisas indicam uma desigualdade preocupante no atendimento médico. Um estudo de 2018, conduzido pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), revelou que mulheres pretas e pardas têm o dobro de chance de receber um diagnóstico tardio de câncer de mama em comparação com mulheres brancas.

Outra pesquisa, publicada em 2023 pelo Instituto de Estudos para Políticas de Saúde (Ieps) e pelo Instituto Çarê, mostrou que pacientes negros são mais propensos a serem hospitalizados devido a erros médicos em quase todas as regiões do país, exceto no Sul. No Sudeste, por exemplo, a probabilidade de hospitalização por erro médico é 65,2% maior entre pessoas negras. No Nordeste, o número chega a 585,3%.

O Ministério da Saúde e a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) também identificaram disparidades. Em 2023, um estudo apontou que a mortalidade materna entre mulheres negras é mais do que o dobro da registrada entre mulheres brancas. O levantamento analisou óbitos relacionados à gestação, ao parto e ao puerpério no ano anterior.

Nos Estados Unidos, o Centro Médico de Boston constatou que pacientes negros recebem, em média, o diagnóstico de Alzheimer aos 72,5 anos, enquanto pacientes brancos são diagnosticados aos 67,8 anos. A pesquisa também revelou que pessoas negras têm menos acesso às ressonâncias magnéticas necessárias para confirmar a doença.

Medidas para um ensino médico mais inclusivo

O filme Corpo Negro destaca outros dados preocupantes, como o tempo de consulta médica mais curto para pacientes negros e o fato de que, apesar da invisibilidade no atendimento, são os corpos negros os mais utilizados para estudos em cursos de Medicina.

A sub-representação de negros na Medicina também é um problema. De acordo com o Censo 2022, divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 75,5% dos graduados em Medicina são brancos, enquanto apenas 2,8% são pretos.

Para combater esse cenário, o projeto Mediversidade propõe a adoção de diversas medidas, como:

  • Cursos gratuitos de letramento étnico-racial para professores, alunos e profissionais de saúde;
  • Ampliação para 35% no número de vagas afirmativas na contratação de docentes;
  • Revisão das matrizes curriculares para um ensino mais inclusivo;
  • Priorizacão de pesquisas científicas sobre diversidade;
  • Concessão de bolsas integrais para estudantes pretos e pardos;
  • Utilização de manequins negros nas aulas de simulação médica.

Com essas ações, o Mediversidade busca garantir uma formação médica mais diversa e, consequentemente, um atendimento de saúde mais igualitário para toda a população.

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