A presença dos bebês reborn na vida de alguém é, quase sempre, um sintoma – e não a solução. Eles apontam para histórias de perda, solidão, traumas familiares, transtornos mentais não tratados, luto não elaborado. Mas ao invés de escutar essas histórias, a sociedade costuma rir, julgar ou patologizar esses comportamentos.
Por outro lado, há milhares de crianças reais vivendo em extrema vulnerabilidade, sem nenhuma “rebornização” possível: sem berço, sem fralda, sem leite, sem família. Famílias de baixa renda lidam com dores profundas – como a perda de filhos em contextos de violência, pobreza ou negligência do Estado – sem direito ao luto, sem escuta, sem terapias, sem apoio. O SUS, subfinanciado e sobrecarregado, não consegue oferecer o suporte que essas situações exigem.
Um debate urgente e humano
A proposta de Rosângela Moro levanta uma importante reflexão: não se trata apenas de viabilizar tratamento para quem compra um bebê reborn, mas de ampliar a compreensão sobre o sofrimento emocional que move essas escolhas. O que essas pessoas estão tentando curar? De que luto elas não conseguiram sair? O que o sistema de saúde e o Estado como um todo deveriam estar fazendo, mas não fazem?
Não se trata de romantizar os reborn, nem de desmerecer seu valor simbólico. Trata-se de reconhecer que, em muitos casos, esses bonecos ocupam um vazio que deveria ser preenchido com humanidade, cuidado e escuta. E de apontar o contraste doloroso entre o luxo de um boneco hiper-realista e a realidade de tantas crianças de verdade sem ninguém que as veja, as acolha, as ame.
É hora de olhar para essa realidade com menos julgamento e mais empatia. E de cobrar que o poder público ofereça não só apoio psicológico, mas uma rede de proteção social capaz de lidar com as verdadeiras dores que fazem um adulto desejar adotar um boneco como filho.