Fundada em 1976, a Faculdade de Educação, Ciências e Letras do Sertão Central (FECLESC) emergiu como fruto da mobilização coletiva da sociedade quixadaense e de toda a região do sertão central cearense. Incorporada à Universidade Estadual do Ceará (UECE) em 1983, a instituição não foi apenas a primeira de ensino superior em Quixadá e sertão central, mas um marco civilizatório para o território. Pioneira, tornou-se a matriz intelectual que impulsionou o surgimento de outras instituições de ensino na região, além de formar gerações de professores que, por décadas, foram os principais agentes no combate ao analfabetismo e à escassez de oportunidades. Seu papel transcende a formação acadêmica: semeou a transformação social em uma área historicamente marginalizada, demonstrando que o acesso à educação superior não é privilégio de grandes centros urbanos, mas um direito universal.
Contudo, a FECLESC enfrenta um paradoxo: embora tenha qualificado milhares de docentes que hoje atuam nas redes pública e privada da região, sua trajetória permanece obscurecida no imaginário local. Esse apagamento histórico reflete uma contradição social: enquanto as gerações atuais colhem os frutos de seu legado, poucos reconhecem o solo fértil que as sustenta. A instituição ainda recebe estudantes majoritariamente de famílias de baixa renda, que enfrentam obstáculos como a precariedade do transporte público, alimentação e os custos de materiais didáticos. São jovens que carregam o peso em suas mochilas de romper ciclos de exclusão, mas dependem de políticas públicas eficazes para converter potencial em mudança concreta.
É urgente que as prefeituras do Sertão Central e dos municípios vizinhos reconheçam a FECLESC não como um projeto isolado, mas como um patrimônio educacional coletivo. Ampliar o apoio aos estudantes — muitos deles futuros educadores — é garantir que as próximas gerações tenham acesso a uma educação transformadora, capaz de romper com a marginalização histórica da região. Medidas como subsídios para transporte, bolsas de pesquisa e parcerias para estágios são fundamentais para esse fim. Secretários de educação devem enxergar nesses acadêmicos agentes de um ciclo virtuoso: cada formando da FECLESC é um multiplicador de conhecimento, com potencial para impactar centenas de vidas. Valorizar a instituição é, acima de tudo, resgatar a luta secular do sertão por dignidade e justiça social — um legado que merece ser não apenas preservado, mas celebrado.
“A educação é a arma mais poderosa que você pode usar para mudar o mundo.” (Nelson Mandela)
Wanderley Barbosa
Jornalista e Radialista Profissional
Delegado do SINDRADIOCE
Presidente da AISC e Associado da ACI