O preço do leite tem pautado o setor pecuário leiteiro do Sertão Central e do Ceará nas últimas semanas, principalmente pela redução no preço por litro do produto que é vendido pelo produtores, que ressaltam a possibilidade de prejuízos diante na queda do valor. De acordo com Armindo Neto, diretor executivo de Captação da Alvoar Lácteos, maior empresa do ramo no Ceará, a oscilação atual no preço do produto é uma questão de oferta e demanda.
“As oscilações do mercado de leite no Brasil, e no Ceará não é diferente, acontecem normalmente. Faz parte da dinâmica desse mercado. Isso está muito atrelado ao preço de venda ao consumidor, para os supermercados e também a produção de leite no campo”, disse Armindo, em entrevista exclusiva ao programa Ponto de Vista, da SerTão TV, emissora do Sistema Maior de Comunicação.
Segundo o diretor, no segundo trimestre de 2025, o Brasil bateu recorde na produção de leite. A Alvoar, em agosto deste ano, tem recebido 30% a mais de leite em comparação com o mesmo mês do ano passado. Entre os produtores que vendem para a empresa, a produção cresceu 17%. Mas, apesar do crescimento, o consumo de lácteos pela população diminuiu.
“O problema não é só leite a mais produzido. Tem a outra ponta. O consumo retraiu. A população está, de certa forma, com dificuldade para manter os níveis de consumo. O consumo de lácteos nos supermercados caiu 3,5% esse ano em relação ao ano passado. Então você tem uma conjuntura em que a oferta e produção de leite cresceram muito e o consumo reduziu. Essa combinação de fatores faz com que o preço esse ano tenha caído, e na soma das quedas em 2025 já chegou a R$ 0,30, contra os R$ 0,36 [de aumento] do ano passado”, explicou, ressaltando que esse é um fenômeno que tem acontecido em todo o Brasil.
Preço por litro na Alvoar
A Alvoar, de janeiro a julho de 2025, pagou por litro de leite o equivalente a 13% a mais do que no mesmo período de 2024 para o produtor, de acordo com Armindo. Mesmo com as quedas, ele aponta que a empresa não chegou a igualar o preço de 2025 com o que era pago em 2024.
“A gente tem uma condição que ainda não é tão ruim. É uma redução, evidentemente ninguém gosta, porque é um negócio ruim tanto para o produtor como para a indústria. É uma condição que afeta o nosso resultado também. Ninguém fica feliz, nem faz a baixa do preço apenas porque quer baixar, é porque realmente somos obrigados a isso”.
O fornecedor direto Alvoar, ou seja, que vende o leite diretamente para a empresa, recebe R$ 2,20/litro, no mínimo. Armindo explica que, caso o produtor esteja recebendo menos que esse valor, é porque o produtor vende para algum atravessador/intermediário, que revende. A projeção da empresa é que o preço mínimo seja aumentado para reduzir a diferença entre o pequeno e grande produtor.
“Se você é produtor de leite e recebe menos de R$ 2,20 hoje, e quer procurar a Alvoar para negociar seu leite, temos tanques disponíveis. Agora, leites abaixo desse valor, provavelmente a pessoa está vendendo para outras empresas ou para outros intermediários”, afirmou Armindo.
Alvoar não compra metade do leite do Ceará
A Alvoar não detém o monopólio de compra de leite de produtores no Ceará, conforme o diretor, pois a empresa não chega a comprar nem metade do leite produzido no estado: “O Ceará tem mais de 2 mil queijarias. Somadas, elas têm mais da metade do leite, junto com outros laticínios que atuam no estado. Somos a maior empresa do estado, mas nossa atuação está longe de ser um monopólio.”
Instalação de distribuidora de grãos
Armindo revelou, ainda durante a entrevista, que a Alvoar avalia a possibilidade de instalar uma distribuidora de grãos em Quixeramobim, motivada pela construção do porto seco, a preço mais barato, para que esse valor seja repassado aos produtores.
“Estamos sempre buscando alternativas para ajudar o produtor e a fomentá-lo”, disse.
Manifestação
O diretor da Alvoar ainda foi questionado acerca da manifestação que está sendo organizada na tentativa de debater essa baixa no preço do leite. Segundo ele, é um movimento que causa estranhamento: “Quando vemos quem são as lideranças desses movimentos e as pessoas que sempre estão nos vídeos, são pessoas que não vendem leite para a Alvoar. E aí eu pergunto por que alguém que não tem relacionamento comercial com a Alvoar, vai manifestar na porta da empresa? E, principalmente, fica circulando para prefeitos e secretários de Agricultura da região histórias que não têm o menor cabimento e também falando que nosso preço é o mais baixo do estado. Quando vemos, eles sequer vendem leite pra gente.”
Armindo questionou o interesse por trás dessas manifestações e sugeriu que “provavelmente não são para ajudar o produtor”, pois o ato não resolve nada e dá “mais mídia para quem quer aparecer, por interesse político ou pessoal”.
“A gente sabe quem são essas pessoas. Sabemos que, se fossem de fato honestos, eles diriam aos produtores qual o preço que eles recebem dos intermediários, porque a gente sabe que eles recebem preço diferenciado, e não o pior como eles dizem. Tem muito interesse particular nessa história”, afirmou.
Confira a entrevista na íntegra: